Lucas Valença - Especial para o Correio, Camilla Venosa - Especial para o Correio
postado em 24/10/2018 12:15
O jornalista Raymundo Costa morreu na noite de terça-feira (23), em Brasília, por conta de uma septicemia. O repórter foi diagnosticado com câncer de pulmão, em 2016, e, desde o dia 7 de outubro, estava hospitalizado. Com mais de 40 anos de carreira, Raymundinho, como era chamado pelos amigos e colegas de profissão, trabalhava como repórter especial e colunista no jornal Valor Econômico, desde 2005. Nascido em 18 de setembro de 1952, em Belém do Pará, era filho de Raimundo Costa e Iracy de Souza Costa. Raymundo era casado e deixa três filhas e quatro netos.
O repórter começou sua carreira trabalhando em alguns jornais da capital do Pará, como O Liberal e A Província do Pará. Em São Luis, Maranhão, foi correspondente de O Estado de S. Paulo, com foco na cobertura sobre a Amazônia. Sua trajetória também o levou a redações de Veja, IstoÉ, O Globo e Folha de S. Paulo. Em Brasília há mais de 30 anos, Raymundo acompanhou e cobriu política desde o regime militar, passando pela transição democrática, e chegando ao cenário político atual.
A colunista do Correio Denise Rothenburg lembrou que, em 1989, quando trabalhava na Folha de SP., Raymundo Costa, então repórter do veículo, foi convidado para coordenar a editoria de política da sucursal, de Brasília, do O Globo. Logo em seguida, convidou a jovem jornalista para completar a equipe. ;Ele me ensinou a sempre procurar ouvir o maior número de pessoas possíveis de uma reportagem política, além de nunca comprar a primeira versão de um fato;, disse.
O ;primoroso texto; também é ressaltado pela colunista como uma das principais características do jornalista, mas não era a única. A precisão e o equilíbrio na análise se tornou cada vez mais importante e necessário em um cenário eleitoral, cada vez mais, acirrado. ;Pouco tempo atrás eu falei na reunião de pauta para alguns repórteres: leiam sempre a coluna do Raymundo no valor, porque ele é um mestre do jornalismo político;, chorou ao lembrar da cena.
Para o editor-executivo do jornal Valor Econômico Cristiano Romero, Raymundo deixa um grande legado para o jornalismo brasileiro. ;Ele era uma referência, um ícone do jornalismo político brasileiro. Raymundinho tinha um texto incrível, ele elevava a história. E era um profissional muito respeitado pelos colegas e pelas fontes de informação, como políticos, militares, ministros. Era um jornalista sem paixões políticas. E o legado que ele deixa é de um jornalista que honrou a profissão por ser muito ético, sempre apurando a fundo as informações;, diz. Romero também comenta sobre as lições aprendidas com o amigo jornalista. ;Ele me ensinou, sem ter que me falar diretamente, a conversar com pessoas que não querem falar quando estão sendo gravadas. Ele ia sem gravador ou caderno de anotações, com muita atenção, e fazia uma matéria fidedigna;, lembrou o jornalista.
Foi no dia a dia da profissão que o jornalista Fernando Exman conheceu Raymundo Costa. No entanto, a amizade só se construiu em 2010, quando ambos cobriram uma viagem à Rússia e ao Irã, do então presidente Lula. Exman era repórter do veículo britânico Reuters e já admirava o trabalho do experiente jornalista. ;O Raimundo é o jornalista que qualquer iniciante na profissão quer ter do lado. Além de ser uma referência no jornalismo político, é uma pessoa que, simplesmente, todo mundo já tinha lido e tido como exemplo;, contou.
Ribamar Oliveira, repórter especial do Valor, lembra da ;generosidade; do jornalista com os iniciantes na profissão. Sempre solidário aos colegas, Raymundo tinha um senso de humor ;sutil;. ;Foi um mestre do jornalismo e um grande caráter;, e lamenta. ;Ficou mais difícil tocar o barco sem ele;. Raymundo Costa era tido pelo amigo como um dos ;maiores analistas; da cena política brasileira. Além de ser ;respeitado por todos;, Ribamar também ressalta a admiração que tinha pela análise do jornalista. ;Era interlocutor dos principais personagens políticos e conhecia como poucos o MDB, o PT, o DEM e o PSDB, para falar apenas dos partidos que dominaram o cenário político nos últimos anos;, explica.