Se a tendência se confirmar, 2018 será o terceiro ano consecutivo de queda na cobertura vacinal de crianças menores de dois anos. Novos dados do Ministério da Saúde mostram que, entre janeiro e agosto, nenhuma das nove principais vacinas atingiu a meta de proteger 95% desse público. As médias alcançadas estão entre 50% e 70%. Na tentativa de alavancar os índices, as autoridades sanitárias lançaram uma campanha de vacinação.
Diferentemente de outros momentos, a capital federal está entre as unidades da Federação com números abaixo do preconizado pelas autoridades de saúde. A vacina BCG (contra a tuberculose) está com média de cobertura de 38,9% ; a mais baixa do país. A média nacional é de 75,9%. A vacina que combate a poliomielite foi aplicada em 52,4% do público-alvo no DF.
Outro destaque é a Bahia. Lá estão os piores índices do país para sete vacinas. A cobertura da tetra viral, por exemplo, está em 36,7%. No estado, a mais alta taxa de proteção é da pneumocócica: 48,36%. O Pará tem a menor cobertura para a pentavalente (37,86%). No Brasil, a tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e catapora), por exemplo, está mais de 40 pontos percentuais abaixo do recomendado (veja quadro).
Essa tendência já era evidenciada desde 2016. A preocupação da pasta é que doenças já eliminadas ou erradicadas no país voltem a infectar. A desinformação provocada por fake news (notícias falsas) é apontada pelo Ministério da Saúde como uma das principais causas da queda na cobertura vacinal. A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Carla Domingues, faz um alerta. ;Precisamos reverter esse cenário e não entrar no terceiro ano de baixas coberturas vacinais;, ressaltou, no lançamento da campanha.
Especialistas temem que, mesmo não sendo dados consolidados de todo ano, a queda se mantenha. ;A relevância da vacina não pode ser diminuída. Há um movimento antivacina brutal. Eles pregam a barbárie. Suas mentiras se espalham pelas redes sociais e prejudicam a adesão. Há também desfalques na estrutura do serviço público, como falta de agentes. Vivemos um momento desfavorável para a imunização;, explica José David Urbaéz, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Juarez Cunha, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), é mais incisivo. ;Sabemos que cientificamente não há problemas na aplicação de vacinas. Devemos vacinar, esclarecer e aplicar as doses. O sarampo era a principal causa de morte até iniciar a vacinação. Há doenças que quem não morre fica com sequelas;, conclui. Ele ressalta o investimento na imunização. ;Na década de 1970, cinco vacinas eram disponibilizadas. Hoje, são mais de 15;, pondera.
Vigilância
A subsecretária de Vigilância à Saúde da Secretaria de Saúde do DF, Maria Beatriz Ruy, discorda dos dados do Ministério da Saúde e garante que somente três vacinas estão com cobertura abaixo de 80% ; pentavalente, hepatite B e tetra viral. ;Os números estão defasados, porque estamos enfrentando um problema técnicas para a migração dos dados. A nossa cobertura ainda não é a ideal de 95%, mas temos melhorado;, avalia.
A enfermeira Vânia Rebouças, da Coordenação Estadual de Imunização da Bahia, faz um apelo. ;Temos assistido a uma queda drástica nas coberturas vacinais. Para melhorar os índices, estamos levando a vacina onde o público-alvo está. Temos que compartilhar a responsabilidade da avaliação da atualização do cartão de vacina. As doenças têm uma representação de risco que aumenta se as pessoas não estão imunizadas;, ressalta.
Em risco
Veja a cobertura das principais vacinas
BCG
Brasil: 75,97%
DF: 38,97%
Pior situação: DF
Rotavírus
Brasil: 64,18%
DF: 55,45%
Pior situação: Bahia
Meningocócica C
Brasil: 64%
DF: 57,97%
Pior situação: Bahia
Pneumocócica
Brasil: 67,35%
DF: 57,45%
Pior situação: Bahia
Poliomielite
Brasil: 62,6%
DF: 52,48%
Pior situação: Bahia
Pentavalente
Brasil: 59,64%
DF: 49,23%
Pior situação: Pará
Hepatite A
Brasil: 57,13%
DF: 48,28%
Pior situação: Bahia
Tríplice viral
Brasil: 68,79%
DF: 53,45%
Pior situação: Bahia
Tetra viral
Brasil: 53,52%
DF: 50,05%
Pior situação: Bahia
Fonte: Ministério da Saúde
Atualização: às 14h53 a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde do DF enviou ao Correio um memorando encaminhado ao Ministério da Saúde em que pontua "perdas" de dados no sistema de notificação e cobra a atualização das informações. "A publicação não cita a fonte dos dados utilizados, nem o dia em que os mesmos foram acessados, bem como não pontua os diversos problemas e limitações do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações", destaca trecho do documento. Os dados mais atualizados, de acordo com o texto, mostram as seguintes coberturas vacinais:
BCG: 75,81%
Rotavírus: 82,52%
Meningocócica C: 82,46%
Poliomielite: 78,88%
Pentaavalente: 78,44%
Pneumocóccica: 84,74%
Tríplice viral: 88,07%
Tetra viral: 80,80%
Hepatite A: 82,39%
Em nota, o Ministério da Saúde informou que os dados são ;preliminares; e informam o que as secretarias repassam ao órgão. ;Os estados e municípios podem registrar os dados no sistema até final de março do ano que vem;, pontua o texto. Segundo o órgão, não há comprometimento da média nacional, já que o boletim consolidado será publicado somente em 2019.