A taxa de mortalidade por sepse, ou infecção generalizada, é mais de duas vezes maior nos hospitais públicos do que nos privados. Estudo divulgado pelo Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas) mostrou que 42,2% dos pacientes com sepse levados a prontos-socorros das instituições públicas morreram. Já nas instituições particulares, a taxa foi de 17,7%. O levantamento avaliou 74 prontos-socorros do Brasil, dos quais 28 eram públicos e 46, privados.
Estima-se que a sepse atinge de 15 a 17 milhões de pessoas por ano no mundo, sendo 600 mil só no Brasil. Segundo o estudo, a sobrevivência dos doentes aumenta muito se eles forem transferidos para unidades de tratamento intensivo (UTI) nas primeiras 24 horas após a identificação da doença. E essa transferência é mais frequente em instituições privadas.
No SUS e em instituições públicas, os pacientes permaneceram no pronto-socorro até a alta ou o óbito em 38,5% das ocasiões ; e a mortalidade desses pacientes foi de 61,8%. Em contrapartida, apenas 6,2% dos pacientes particulares permaneceram no local até a alta hospitalar.
O presidente do Ilas, Luciano Azevedo, um dos autores do estudo, explicou que a sepse é uma resposta inadequada do organismo a uma infecção grave e danifica o funcionamento dos órgãos. Segundo ele, a doença não é um problema apenas de pacientes internados em hospitais, uma vez que grande parte dos casos é de pessoas atendidas nos serviços de urgência e emergência.
;O estudo foi feito em prontos-socorros do país em duas vertentes: tanto a sepse adquirida no hospital quanto a adquirida na comunidade. O que vemos é que a alocação dos pacientes é inadequada nos hospitais públicos, agravando a doença e trazendo altas taxas de mortalidade;, disse Azevedo. De acordo com ele, para melhorar a taxa de sobrevivência dos doentes, é necessário estruturar os serviços, aumentar o número de profissionais, capacitá-los e disponibilizar mais leitos de UTI.
Sinais
;O local mais adequado para o paciente que chega ao pronto- socorro com pneumonia ou AVC, por exemplo, não é o corredor. Se ele tiver uma sepse, isso aumenta a chance de morte. Ele precisa ser tratado na UTI. A equipe precisa identificar rapidamente e ministrar antibióticos;, observou o presidente do Ilas.
;Nos hospitais públicos, há uma dificuldade de acesso e o diagnóstico é tardio. A sepse mata mais do que infarto do miocárdio. Os profissionais precisam saber identificar os sinais. Quanto mais tarde se descobrir a doença, mais alta a taxa de mortalidade;, explicou a infectologista Joana D;Arc Gonçalves da Silva .
Entre os sintomas da doença estão aumento da frequência respiratória, hipotensão e alteração do nível de consciência. ;Se o paciente apresenta dois desses pontos, está em sepse. Os médicos têm prazo de uma hora para aplicar a medicação adequada. A ação rápida reduz a mortalidade;, alertou Joana D;Arc. De acordo com a especialista, na rede particular, esse tipo de tratamento é normatizado, diferentemente do que ocorre nos prontos-socorros das instituições do governo.
;Na rede pública, na maioria das vezes, o profissional não sabe identificar a sepse. Quando identifica, faltam médicos e, às vezes, o doente fica na fila junto a outros pacientes. Outras vezes, falta medicação ou mesmo material para exames;, disse a infectologista. Ela afirmou ainda que é necessário capacitar e sensibilizar o profissional para a identificação precoce da doença. ;Os cuidados básicos reduzem em 30% o risco de morte por sepse;, acrescentou.
- Saiba mais
; A disfunção ou falência de múltiplos órgãos é responsável por 25% da ocupação de leitos em UTIs no Brasil.
; A sepse é a principal causa de morte nas UTIs e uma das principais de mortalidade hospitalar tardia, superando o infarto do miocárdio e o câncer.
; A mortalidade pela doença é alta no país, chegando a 65% dos casos, enquanto a média mundial está em torno de 30 a 40%.
; Por necessitar de equipamentos sofisticados, medicamentos caros e exigir muito trabalho da equipe médica, a doença é a principal geradora de custos hospitalares.
; Em 2003, aconteceram 398 mil casos e 227 mil mortes por choque séptico no Brasil, com a destinação de R$ 17,34 bilhões ao tratamento.