A próxima pessoa a ocupar o gabinete da Presidência do Palácio do Planalto terá o desafio de mostrar ao mundo as contribuições do Brasil com a agenda do clima. Em 2020, todos os signatários do Acordo de Paris, assinado em 2015 e promulgado pelo presidente Michel Temer no ano passado, precisam colocar em prática as metas assumidas, com objetivo de reduzir o aquecimento do planeta. Além disso, devem divulgar o plano de desenvolvimento de longo prazo para garantir que, até o fim do século, a temperatura no globo aumente, no máximo, 2;C e, preferencialmente, 1,5;C.
Levantamento feito pelo Correio mostra, porém, que nem todos os presidenciáveis elegeram as mudanças climáticas como prioridade nos planos de governo. Enquanto alguns documentos, como o apresentado pela ex-ministra do meio ambiente Marina Silva (Rede), contemplam ações diretas e indiretas de enfrentamento ao problema, outros não citam o aquecimento do planeta nem trazem propostas para combatê-lo ou mitigá-lo. É o caso de Jair Bolsonaro (PSL), cuja única referência ambiental é a possibilidade de explorar ;fontes de energia renovável, solar e eólica; no Nordeste. O candidato, inclusive, já sinalizou que, se eleito, poderá retirar o Brasil do acordo internacional, assinado por 195 países.
;Isso não faz o menor sentido;, diz Carlos Rittl, secretário executivo da coalizão Observatório do Clima. ;Quando o (Donald) Trump tira os Estados Unidos do acordo, ele faz isso visando atender aos interesses de quem o apoiou na campanha: o setor de carvão e de combustíveis fósseis. Para o Brasil, o acordo é uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento com mais qualidade. Ameaçar retirá-lo não seria ruim para o clima, seria péssimo para a própria economia;, argumenta.
Compromissos
Para Carlos Rittl, além do plano de Marina Silva, apenas os de Fernando Haddad (PT) e o de Guilherme Boulos (Psol) trazem discussões mais substanciais sobre as mudanças climáticas. ;São os que têm agenda climática com compromissos objetivos. Os de Ciro (Gomes, do PTB), (Henrique) Meirelles (MDB), (João) Amoêdo (Novo) fazem referências mais genéricas, e o de (Geraldo) Alckmin (PSDB) é superficial;, cita. O plano de Haddad, segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, fala em ;transição ecológica para a nova sociedade do século 21;, usando a mesma expressão contida no documento divulgado pela campanha de Luís Inácio Lula da Silva, quando o PT acreditava que o ex-presidente tinha chances de concorrer ao pleito de 2018.
Mais detalhado que o de Lula, o planejamento de Haddad propõe a ;Reforma Fiscal Verde;, que cria um tributo sobre emissões de carbono, apresenta a meta de zerar as emissões de gases de efeito estufa da matriz elétrica até 2050 e afirma que a produção agroecológica de baixa emissão deve ser prioridade. O presidenciável também promete mudanças no crédito rural, incluindo o financiamento integral do Plano Safra para a agricultura de baixo carbono até 2030.