Ingrid Soares
postado em 14/09/2018 22:50
Um levantamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) divulgado hoje (14/7) durante o primeiro dia do 73; Congresso Brasileiro de Cardiologia aponta que as doenças cardiovasculares são as principais causas de mortes no Brasil e registraram em 2016, 362.091 óbitos, o que resultou em mais de 40 mortes por hora. Segundo o estudo, infartos e derrames (AVC;s), lideram as estatísticas tanto para homens, quanto mulheres.
O presidente do Congresso, Nasser Sarkis, explica que nos homens, a doença se manifesta mais cedo e nas mulheres, de forma tardia, mas a estatística ao longo da vida é igual.
No entanto, para os homens, os infartos vêm em primeiro lugar com 68.018 mortes. Já os derrames, vitimaram 51.753 pessoas do sexo masculino, ao longo de 2016, dados mais recentes disponíveis e contemplados no levantamento da SBC. Entre as mulheres, a situação se inverte com mais mortes por AVCs, 51.198 vítimas. Por infarto feminino foram 48.104 mortes. O colesterol elevado, estresse, hipertensão, sedentarismo, obesidade, diabetes, tabagismo e álcool em excesso constituem fatores de risco para as doenças cardiovasculares.
O cardiologista Felipe Simão ressalta que, na mulher, uma das explicações da enfermidade é pela chegada da menopausa. ;Depois desse período a mulher perde a proteção hormonal e se torna mais vulnerável às doenças cardiovasculares e, em muitos casos, com mais gravidade do que os homens. Em relação ao AVC, há um indicativo de que a mulher tenha maior fragilidade vascular que os homens, porém ainda não há um trabalho científico robusto que sustente de forma definitiva essa tese;, ressalta.
Durante o evento, o cardiologista Roberto Kallil Filho ressaltou a importância da cardio-oncologia no tratamento de pacientes com câncer. ;A cardio-oncologia se tornou uma sub especialidade da cardiologia e evoluiu muito. Pacientes submetidos a quimio ou radioterapia muitas vezes apresentam efeitos colaterais das medicações no coração ou sistema cardiovascular e muitos acabam indo a óbito por complicações cardíacas e não do câncer. Logo, essa integração entre o cardiologista e o oncologista é fundamental para um acompanhamento mais rigoroso. Os controles de prevenção são fundamentais para aumentar a sobrevida do paciente com câncer em quimio e na radioterapia;, observa.
Espiritualidade auxilia no tratamento cardiovascular
Outro assunto levantado pela comunidade médica durante o congresso, ressalta a importância da espiritualidade no tratamento de doenças cardiovasculares. Além dos fatores de risco clássicos, o presidente da SBC, Oscar Dutra, aponta que pessoas irritáveis e intolerantes são mais propensas a desenvolverem doenças cardiovasculares enquanto que pessoas que buscam desenvolver a espiritualidade apresentam redução de 16% no índice de mortalidade geral e 28% na causa de mortalidade cardíaca.
;O bom estado emocional e a espiritualidade, somados à medicina tradicional tem um papel importante e auxiliam no equilíbrio da saúde. Há estudos que mostram que pessoas que têm um nível de espiritualidade maior sofrem menos desse tipo de doenças. Quando há uma alteração por nervosismo, o sistema cardiovascular fica sobrecarregado, ficando mais propensa a derrame, avc, angina e infarto. O ideal é que as pessoas busquem mais positividade, uma vida mais tranquila, menos agitada e ansiosa;.
O vice-presidente do Grupo de Estudos em Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da SBC, Mário Borba explica que a espiritualidade não possui uma relação específica com uma religião e que a comunidade médica reconhece que a prática é um fator positivo.
;Espiritualidade nada tem a ver com uma única religião, tanto que nos debates sempre há cardiologistas de diferentes denominações religiosas, ateus e agnósticos, todos empenhados em buscar comprovações científicas de como a espiritualidade age no organismo e na saúde cardiovascular. É importante que a pessoa busque uma prática benéfica que lhe dê prazer, que tire um tempo para curtir a família e também para se auto analisar;, orienta.
Despreparo
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, ocorrem 720 casos de paradas cardíacas por dia no Brasil. O coordenador do Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares da SBC, Sergio Timerman, afirmou que a maioria dos hospitais estão sobrecarregados e despreparados para receber pacientes que tiveram parada cardíaca ou que apresentam o quadro.
;Quando o paciente retorna de um quadro instável e não é tratado de forma conveniente, morrem. De 100 pessoas que entram após serem ressuscitados, menos de 10% sobrevivem pela falta de cuidados pós-parada cardíaca e os pacientes que apresentam parada no hospital não sobrevivem porque os times de profissionais muitas vezes, não estão preparados. É preciso que os hospitais treinem e instituam um time de resposta rápida;.
Para Timerman, os hospitais brasileiros, com poucas exceções, são péssimos lugares para se ter uma parada cardíaca. ;Precisamos suprir a falta de preparo dos profissionais em realizar as manobras de reanimação para salvar vidas o quanto antes;, defende o cardiologista.