Jornal Correio Braziliense

Brasil

Temer decreta uso das Forças Armadas para ações do governo em Roraima

O decreto também permite que os militares atuem em rodovias federais que atravessam o estado

O presidente Michel Temer assinou nesta terça-feira (28/8) o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em Roraima. As ações permitirão que as Forças Armadas atuem com poder de polícia no reforço às faixas de fronteira Norte e Leste com a Venezuela, que compreende uma área de 150km. O texto, que tem prazo de validade de duas semanas, contadas a partir desta quarta-feira (29/8), quando será publicado no Diário Oficial da União (DOU), também permite que os militares atuem em rodovias federais que atravessam o estado.

[SAIBAMAIS]A decisão foi tomada para ;complementar; as ações humanitárias que o governo federal promove em Pacaraima e na capital do estado, Boa Vista, destacou Temer. ;Já oferecemos, como sabem todos, atendimento médico e assistência social. Em abrigos que recebem as famílias de imigrantes em fluxos cada vez mais intensos;, declarou, em pronunciamento no Palácio do Planalto.

O emedebista frisou ainda que o governo também promove o processo de interiorização para minimizar os impactos do ;desastre humanitário; causado pelo governo da Venezuela. ;A onda migratória em Roraima é resultado, devo dizer, das péssimas condições de vida a que está submetido o povo venezuelano;, analisou.

As Forças Armadas reforçarão a área fronteiriça até 12 de setembro. O fortalecimento da atuação militar será capitaneado pelo Exército. O ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, afirma que a 1; Brigada de Infantaria de Selva, localizada em Boa Vista, já está posicionada para atuar. ;Vamos pensar a partir de agora o planejamento para reforçar. Amanhã serão colocados no local e será avaliado o custo da operação;, afirmou.

A manutenção da GLO por um período além das duas semanas ainda será avaliado, destacou Luna. ;Havendo a necessidade, o presidente fará uma nova avaliação, se é o caso de continuar ou não;, justificou. A possibilidade contempla as análises do governo em decorrência do agravamento da imigração venezuelana nas últimas semanas.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Sérgio Etchegoyen, ressalta que a crise observada também em outros países aspira cuidados na Venezuela. Colômbia e Peru passaram a exigir passaporte para a entrada de venezuelanos. ;Há um agravamento da crise em toda a América do Sul. Tanto é verdade que outros países tomaram medidas mais rigorosas. E isso terá repercussão em toda as fronteiras e também na nossa;, ponderou.

Cálculos do governo apontam que, diariamente, entram em Roraima entre 600 a 700 venezuelanos. Desses, 20% a 30% decidem permanecer no país. Além da entrada de imigrantes, preocupa o governo o crime organizado no estado. ;As questões prisionais e eventuais repetições do episódio em Pacaraima, onde houve enfrentamento de venezuelanos e brasileiros, preocupam;, admitiu Etchegoyen.

Silêncio

A GLO foi decretada sem o aval da governadora de Roraima, Suely Campos (PP), adversária política no estado do senador Romero Jucá (MDB), presidente nacional da legenda. Etchegoyen afirma que a gestora foi comunicada, mas nega que ela tenha se manifestado. ;A reação até agora tem sido de silêncio. Não reconhece que precisa de ajuda na área de segurança, ou pede ajuda naquilo que não temos mais condições de dar;, declarou.

A declaração de Etchegoyen é mais uma alfinetada do governo federal a Suely. A governadora cobra R$ 184 milhões de ressarcimento pelos gastos do estado com a imigração. O envio de recursos, no entanto, está descartado. Na manhã de hoje, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que o encaminhamento de mais verbas não resolveria nada no momento.

;Temos serviço de saúde custeado pelo governo federal. Serviço do ministério do Trabalho custeado pelo governo federal. Enfim, os órgãos que estão cuidando dos venezuelanos são de responsabilidade do governo federal. Serviços de saúde do município e do estado foram supridos com recursos do Ministério da Saúde;, destacou.