Brasil

Mulher morre após não conseguir atendimento em hospital do Rio

Irene de Jesus Bento é da cidade mineira de Miraí e há dois anos se mudou para o Rio para ficar próximo dos filhos

Agência Estado
postado em 01/08/2018 21:54
Uma mulher de 54 anos morreu horas após ter o atendimento negado na emergência do Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha (zona norte do Rio), no último sábado (28/7). Desesperado diante da demora no atendimento, um filho da paciente entrou em salas do hospital e filmou uma médica que não estava atendendo ninguém e alegou que aguardava prontuários médicos para voltar ao trabalho. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil e, administrativamente, pela Secretaria Estadual de Saúde e pelo Conselho Regional de Medicina (Cremerj).

Irene de Jesus Bento é da cidade mineira de Miraí e há dois anos se mudou para o Rio para ficar próximo dos filhos. Na noite de sexta-feira, 27, ela começou a apresentar dificuldades para respirar, e um dos filhos, Rangel Marques, de 35 anos, a levou ao Hospital Getúlio Vargas, segundo ele narrou em entrevista à TV Globo. Diante da demora no atendimento, foram embora e retornaram no dia seguinte, por volta das 14h.

Irene já estava bastante debilitada e foi colocada em uma cadeira de rodas, onde teve dificuldades para se manter - ela não conseguia controlar o corpo, que precisava ser segurado para não tombar.

Apesar disso, o atendimento demorou, e Rangel passou a caminhar pelo hospital à procura de médicos. Em uma das salas encontrou duas supostas médicas, uma prestando atendimento a um paciente e a outra digitando no telefone celular. Ao pedir ajuda a essa profissional, ouviu que ela estava aguardando prontuários médicos e que ele deveria aguardar ser chamado.

Segundo Rangel, após cerca de uma hora uma enfermeira mediu a pressão de sua mãe, constatou que estava normal e recomendou que o filho levasse a paciente a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), porque o caso dela não era grave o suficiente para ser atendido na emergência daquele hospital. O rapaz então levou a mãe até a UPA da Penha, num prédio vizinho ao hospital onde chegou às 15h.

Segundo Rangel, a mãe dele foi encaminhada para a sala amarela (que indica situação de urgência e atendimento em até uma hora), mas sofreu uma parada cardiorrespiratória e foi logo transferida para a vermelha (que indica situação de emergência e atendimento imediato). Às 19h15 ela sofreu a segunda parada cardiorrespiratória.

"Os médicos não conseguiram entubar minha mãe, porque ela estava com um caroço na garganta", contou Rangel. "Lá pelas 23h me chamaram e contaram que precisariam transferi-la para o Getúlio Vargas, mas não garantiam que ela sobrevivesse e por isso queriam minha autorização para a transferência. Eu falei ;claro, ué, vou deixar ela morrer aqui?; Aí a colocaram na ambulância e levaram. Eu fui correndo e vi quando ela chegou, já com os olhos fechados. Para mim, já estava morta", lamentou.

Oficialmente, a confirmação da morte ocorreu por volta da meia-noite de sábado. "Eu me sinto culpado, acho que deveria ter feito mais por ela. Minha mãe morreu nos meus braços", lamentou Rangel, chorando, durante entrevista à TV Globo.

Irene, casada havia 26 anos com o padrasto de Rangel, foi enterrada nesta segunda-feira, 30, em Miraí. "Ninguém do hospital ligou pra perguntar se precisamos de alguma coisa. Minha mãe deixou um filho de 11 anos, e meu padrasto também está muito abalado", contou Rangel, que levou o caso à Polícia Civil

Investigação

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde, responsável pelo Hospital Getúlio Vargas, informou que o caso será investigado. À TV Globo, a direção do hospital informou que os responsáveis foram afastados temporariamente, para que ocorra a investigação. O Cremerj também investiga o caso e pode punir os médicos. Até a noite desta quarta-feira não havia sido divulgado o nome de nenhum profissional envolvido nesse atendimento.

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