Depois que o 7x1 provocou um abalo sísmico no meu coração e feriu de morte a dignidade de uma nação, havia prometido passar por todos os jogos do Brasil até a próxima Copa do Mundo como um monge num mosteiro: em estado de contemplação, meditação, com mente clara e coração tranquilo. Nada de emoções fortes, torcida histérica, arrepio na pele, batidão no peito.
Estava tudo certo, caminhando a favor das intenções. Permanecia incólume aos apelos, passando ao largo das vitórias da Seleção Brasileira nos amistosos, nada de riso frouxo para as estripulias bonitas de Neymar e companhia, nada de confiar cegamente no Tite, nada de comprar camisa, nem fazer planos para assistir aos jogos. Ou seja, rompida com o futebol, honrando a promessa cheia de orgulho das minhas convicções.
Eis que, passando por esquinas e sinais de trânsito, me deparei com bandeirolas, adereços e afins. Crianças pintando as quadras. Comércio agitado. Notícias nervosas da Rússia. Então comprei uma roupinha verde e amarela para Liz, minha netinha. Quando vi, estava rendida. Peito aberto, coração aos pulos, pronta para o tiro fatal, o grito de gol, o Hino Nacional no estádio. Vai, Brasil! É maior que eu; não deveria, mas é. O futebol me tira das estribeiras, e o Brasil no campo me arranca do desespero em que em me encontro ao assistir à nossa nação tão fatigada, perdida, maltratada.
Pois bem. Vou torcer. Mesmo sabendo que há um tantão de coisas mais importantes para o país. Mesmo sabendo que o futebol é o ópio, que vai nos tirar o foco da eleição e dos escândalos políticos. Paciência. Vou torcer e torcer e torcer. E, depois, sorrir vitórias ou chorar derrotas. E renovar promessas e juras de amor ou ódio.
É hoje, minha gente! Brasil em campo no mundial mais caro da história. Copa na Rússia com patrocínio chinês. Seleção, ao que parece, no rumo certo, respondendo aos comandos e expectativas de Tite. Esquecer o fiasco do 7x1 é impossível, mas é preciso tirar o peso do coração. Já bastam os estádios faraônicos e deficitários nas cidades para nos lembrar que a Copa do Mundo no Brasil deixou um legado trágico para todos nós.