Prestes a completar três meses, na próxima quinta-feira (14/6), a execução da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes continua sem respostas. Ninguém foi responsabilizado pelos 13 tiros ou sequer se conhece a motivação ou o mandante do assassinato.
Na noite desta terça-feira (12/6), parentes de Marielle e Anderson se reúnem, no Rio de Janeiro, com o advogado João Tancredo, que representa as famílias no caso. Antes do encontro, ele conversou com exclusividade com o Correio. Tancredo atuou também no caso Amarildo de Souza ; ajudante de pedreiro morto por policiais militares em 2013.
João critica a falta de respostas das autoridades públicas e acusa o governo do Rio de Janeiro de omissão. "Nada de concreto até agora. O que existe são especulações. O temos de certeza é que o crime tem um alto nível profissional e foi muito eficiente. Estamos com dúvida no sucesso da investigação", reclama.
Os desdobramentos da investigação preocumam as famílias. "Tem esforço pessoal de agentes, mas não vejo esforço do estado do Rio de Janeiro para concluir a investigação. Falta responsabilidade do Estado. Ele está sendo omisso e sem nenhum empenho", pondera.
Para Tancredo, há uma inversão no processo de apuração da polícia no caso Marielle. O ideal é que existam provas para identificar um suspeito, e não o inverso. "Primeiro, aponta-se uma pessoa e começa a produzir as provas. Essa é uma preocupação grande. Se isso não se comprovar joga-se toda a investigação fora, não serve para nada. Temos que ter uma investigação mais aberta", conclui.
O advogado se refere à investigação do ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curucica, e Thiago Bruno Mendonça, conhecido como Thiago Macaco. Eles são investigados suspeitos de participar da execução de Marielle.
Como Marielle denunciava a violência policial contra os moradores de favelas, a atuação da parlamentar estaria atrapalhando os negócios da milícia na Zona Oeste do Rio de Janeiro, cujo os dois teriam ligação. Orlando e Thiago estão presos por envolvimento em outros assassinatos e negam envolvimento no crime.
"A família prefere um culpado solto que um inocente preso. É preciso ter certeza da autoria e do mandante. Basear investigação no depoimento das pessoas e abandonar a prova técnica é delicado. Chega adiante, a testemunha resolve desdizer e isso desmonta todo o inquérito", explica o advogado.
Para ele, o leque das investigações deve ser ampliado. "É uma angústia por esperança. A família precisa saber a autoria e a motivação do crime", conclui o advogado.
O Correio questionou o Gabinete Federal de Intervenção, a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro e as polícias Civil e Militar do estado e, segundo eles, o crime continua em investigação pela Divisão de Homicídios, "sob sigilo".
Relembre
Marielle e Anderson foram mortos em 14 de março deste ano após saírem de um debate com jovens negras na Lapa. Os bandidos seguiram o carro da vereadora por cerca de 4km e abriram fogo. Marielle foi atingida por quatro tiros na cabeça, e Anderson levou três tiros. As vítimas morreram na hora.