Brasil

Segunda fase de interiorização leva 233 venezuelanos para SP e Manaus

A interiorização é uma medida voluntária e o destino do migrante é definido através do perfil do refugiado: famílias e idosos vão à capital amazonense e solteiros à cidade paulista

Gabriela Vinhal - Enviada especial
postado em 04/05/2018 09:30

Vivem na capital roraimense entre 4 e 7 mil venezuelanos em situação de vulnerabilidade

Boa Vista - O Governo Federal e a Organização das Nações Unidas (ONU) realizam, nesta sexta-feira (4/5), a segunda fase do programa de interiorização de imigrantes venezuelanos de Roraima a outros estados do país. Cerca de 233 refugiados foram deslocados a Manaus (164) e a São Paulo (69), cidades de destino desta nova etapa. O deslocamento deles foi feito em um Boeing 767 da Força Aérea Brasileira (FAB).

A interiorização é uma medida voluntária e o destino do migrante é definido através do perfil deles: famílias e idosos vão à capital amazonense e solteiros, à cidade paulista. Os estados escolhidos para o acolhimento são determinados após negociação prévia entre o governo e lideranças. Todas as pessoas que aceitam participar da interiorização passam por exames de saúde, recebem vacinas, são abrigados na cidade de deslocamento e acompanhados até o abrigo.

O general Eduardo Pazuello, comandante da base de apoio logístico do Exército e coordenador da força-tarefa humanitária do governo em Roraima, afirmou que a iniciativa busca ajudar venezuelanos a procurar novas oportunidades em outras localidades do Brasil. "Nosso objetivo é dar dignidade, moradia e comida a eles. Queremos inseri-los, o quanto antes, no mercado de trabalho. O Brasil é um país que gosta de acolher os refugiados e não vamos fechar essa porta", completou.

Na capital roraimense, entre 4 e 7 mil venezuelanos vivem em situação de vulnerabilidade, ou seja, sem assistência do governo. Desses, aproximadamente 1.300 estão em situação de rua. Para o general Pazuello, essa realidade deve ser revertida até a primeira quinzena de maio, quando serão implementadas novas medidas para desocupar a Praça Bolívar e serão inaugurados mais dois abrigos na cidade. "Trazer a normalidade de volta para nosso estado vai diminuir a sensação de pedintes na rua. A cidade vai voltar ao normal, com mais segurança, e a população poderá viver mais tranquilamente", acrescentou.

Em Boa Vista, há oito abrigos, cada um com 500 lugares. Estão previstos ainda a construção de mais três centros de acolhimento - dois em Boa Vista e um em Pacaraima - e de uma ampliação de serviços na fronteira. As obras devem ser concluídas até o próximo 15 de maio.

O venezuelano Pablo Manzo, de 20 anos, escolheu participar da interiorização em busca de novas oportunidades de empregoO venezuelano Pablo Manzo, de 20 anos, escolheu participar da interiorização em busca de novas oportunidades de emprego em São Paulo. "Tenho uma filha de um ano e pais que dependem de mim. O emprego vai me ajudar a enviar dinheiro para que eles possam sobreviver, porque o governo de lá esta acabando com tudo", lamentou. O refugiado, que chegou ao país há três meses, agradece a acolhida dos brasileiros, sobretudo dos agentes da ONU, que o ajudaram a melhorar sua situação de vida. "Várias pessoas me deram comida e a ONU me deu informação. Quero aprender português e trazer minha família para morar comigo".

Segundo dados da Polícia Federal (PF), entre 2017 e 2018, foram registradas a entrada de 92.656 pessoas provenientes da Venezuela. Do total, 44.632 deixaram o Brasil e 48.024 permanecem no país. Os dados foram levantados com a ajuda do controle migratório na fronteira de Pacaraima (RR) com Santa Elena de Uiarén (Venezuela).

Perfil dos refugiados

De acordo com pesquisas recentes da Agência das Nações Unidas para as Migrações (OIM), realizadas com 3.516 pessoas entre janeiro e março deste ano, 52% dos venezuelanos em Boa Vista e Pacaraima têm ensino médio completo, enquanto 26% tem ensino superior e 2% pós-graduação.

Ainda segundo o levantamento, 67% dos migrantes deixam o país de origem por motivos econômicos e laborais, e 22% por falta de acesso a alimentos e serviços médicos. Do total, 65% tem interesse em participar da Estratégia de Interiorização atualmente implementada pelo Governo Federal.

A primeira fase da interiorização foi realizada em 5 e 6 de abril, quando a São Paulo (199) e a Cuiabá (66).

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