Ao mesmo tempo em que se torna quase impossível viver sem recursos tecnológicos e acesso à informação, mais o mundo se aproxima de uma perigosa escassez de profissionais qualificados para produzir tecnologia. Estudos apontam que, em 20 anos, pode faltar quase 1 milhão de trabalhadores capacitados em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Um dos motivos para isso é a pequena participação das mulheres nesse mercado. Elas representam apenas 30% das pessoas que trabalham no setor em termos globais. No Brasil, são somente 25% da força produtiva.
Numa tentativa de mudar esse quadro e incentivar as novas gerações de meninas a se interessarem mais pelo tema, a União Internacional de Telecomunicações (UIT) da Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Internacional das Meninas nas TICs, comemorado anualmente na quarta quinta-feira de abril. Em Brasília, as iniciativas começaram ontem, com palestras motivacionais e oficinas de criação de games oferecidas para cerca de 50 alunas do Setor Leste. Amanhã, mais 120 estudantes do Centro de Ensino do Lago Norte participarão das atividades.
A oficial de programa do escritório regional da UIT para as Américas, Vera Zanetti, explicou que a campanha internacional pretende quebrar paradigmas para evitar que se concretize o gap estimado para daqui a 20 anos. ;Estamos trabalhando na base, com apoio do setor privado, que também tem interesse;, afirmou. O diretor de assuntos regulatórios da Claro, Raimundo Duarte, confirmou a baixa adesão histórica das mulheres. ;Sempre foi uma profissão masculina, apesar de as mulheres terem uma percepção mais ampla do que os homens. Já falta mão de obra e a demanda é cada vez maior;, disse.
Rafael Barbugiani, diretor da escola de programação Happy Code, destacou que, na maioria dos cursos, a participação é de 80% de meninos e 20% de meninas. ;Apenas nas aulas de youtubers é 50% a 50%;, observou. A ouvidora da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Amélia Regina Alves, disse que, além dessas ações pontuais, é preciso inserir a disciplina TICs na grade curricular do ensinos fundamental e médio. ;Temos que ampliar o debate;, comentou.
Robôs
Para sensibilizar a plateia feminina do Setor Leste, a professora da Happy Code e aluna de ciências da computação na Universidade de Brasília (UnB) Annelise Schulz apresentou casos de mulheres famosas pelas contribuições na área de TICs, interagiu com robôs e revelou que os empregos são fartos e muito bem pagos.
;O setor cresce rapidamente e cria cerca de 120 mil postos de trabalho a cada ano;, afirmou. No entanto, apenas 3% dos talentos formados no Brasil são do gênero feminino e 41% das mulheres que atuam no segmento desistem da carreira. ;Culturalmente essa área tem mais homem porque os meninos são incentivados a brincar de videogame e as meninas de boneca. Isso está mudando com o celular. Outra ideia errada é que tem que gostar de matemática. Não é só isso. Tem espaço para quem gosta de desenhar, criar games e aplicativos, ser youtuber;, enumerou.
Annellise cativou as meninas ao dizer que o tempo de que a mulher é para ser perfeita e bonita enquanto o homem é o corajoso e desbravador acabou. E para provocá-las, a professora bradou: ;Nós, como mulheres fortes e inteligentes, não vamos deixar só os homens terem empregos legais e decidirem como vai ser o futuro da tecnologia do mundo!”. A tática funcionou e as alunas ficaram bastante empolgadas com a possibilidade de escolherem uma carreira de exatas.
Maria Vitória da Silva Gomes, de 17 anos, estudante do 3; ano do ensino médio, disse que nunca tinha considerado a área por realmente achar que era ;coisa de menino;. ;Eu queria algo na área de saúde, mas altos salários emocionam;, contou. Tayane Resende, 16, também do 3; ano, disse que se sentiu estimulada. ;Eu cogitava alguma carreira nessa área, principalmente pelo envolvimento das tecnologias no nosso dia a dia, mas a palestra abriu meu horizonte;, revelou.
Anna Luisa de Araújo Silva, 16, aluna do 1; ano, gostou do incentivo, porque já tinha intenção de seguir carreira. ;Eu penso em cursar engenharia mecânica ou mecatrônica;, afirmou. Já Izabela Evaristo de Mello, 15, do 1; ano, ficou balançada. ;Queria fazer medicina, agora estou indecisa. Achei essa área muito legal e bastante ampla;, contou.
Para Ingrid Lorraine Souza Benício, 16, do 1; ano, a matemática afastava qualquer possibilidade de seguir carreira em exatas. ;Pensava em fazer direito, mas gostei muito dos robôs;, disse. Aprender como fazer aplicativos mexeu com a aluna do 1; ano Camilly Venâncio Gonçalves, 15, que também estava focada em cursar direito. ;Eu me empolguei com essa coisa de produzir apps;, destacou.