Nesta Páscoa, há uma importantíssima ressurreição a celebrar: o ;eu político;. Jesus Cristo renascido comemora conosco o olhar mais atento da sociedade para si própria, para o Brasil, com todas as suas contradições, mazelas e problemas. A revolta contra os corruptos, a discussão acalorada sobre política no almoço de família, a reação à morte da vereadora Marielle Franco são o despertar de um sono profundo. Parece que, aos poucos, estamos nos lembrando do sonho que tivemos enquanto dormíamos: um Brasil bonito, plural, justo, democrático, com oportunidades iguais para todos. É uma utopia, eu sei. Mas cada um de nós, com a consciência de que somos seres políticos desde que nascemos, podemos ajudar a construir esse país.
Nesta vivência da sociedade que deixa de ser zumbi existe um tantão de efeitos colaterais. Raiva, ódio e mágoa, por exemplo, são sentimentos que habitam os corações de seres humanos ansiosos por transformação. Preconceito social, racismo, machismo são pano de fundo para comportamentos incoerentes em relação ao próprio desejo ; no íntimo, até a mais revoltada das criaturas quer paz, amor, um abraço caloroso, um ombro para chorar, um corpo menos cansado de batalhas. Mas o que estamos fazendo para sossegar a alma? Lutar contra o mal exige uma mente pacificada e um coração livre de ódio. São essas as armas letais capazes de minar a intolerância e outras babaquices.
Neste processo, de cutucar o animal político que mora em nós, acabamos por despertar o monstro. O dragão das fábulas espalha fake news sobre Marielle, manda bala na caravana do Lula, cospe fogo nos próprios amigos, não suporta o diferente e enxerga em qualquer indefeso um inimigo mortal. Chega dessa brincadeira que destrói amizades, vidas, reputações. Chega desse extremismo, desse radicalismo que impõe medo e sabota qualquer esperança de transformação.
Nesta Páscoa, podemos exercitar o perdão e a tolerância em larga escala, não apenas no próprio quintal. Se somos seres políticos capazes de protestar e gritar contra injustiças, também devemos ser capazes de conviver pacificamente com quem pensa diferente. Não que você não possa tentar convencê-lo de que seus ideais de sociedade são melhores, mas o faça com respeito e sem arrogância. Que o exemplo de Jesus Cristo nos guie!