Na sequência, outras nove alunas do mesmo professor procuraram a polícia e relataram abusos cometidos dentro da instituição. Os últimos três casos foram registrados na quinta-feira, 29. A universidade abriu uma sindicância interna e o professor pediu afastamento por razões médicas.
O delegado Paulo de Deus, da 6; Delegacia de Polícia da Capital, diz que os relatos das novas vítimas são parecidos com os depoimentos já colhidos e que os indícios apontam para prática de assédio sexual, com pena prevista de um a dois anos.
Já o caso de estupro, o primeiro a ser denunciado, teve inquérito encaminhado à Delegacia de Palhoça, município da Grande Florianópolis onde teria ocorrido o fato. Nesse caso, se condenado, o professor pode pegar de seis a 12 anos de prisão em regime fechado.
A advogada Isadora Tavares, que representa nove das dez supostas vítimas, conta que após a denúncia por estupro as alunas começaram a conversar entre si sobre o assunto e descobriram que o professor mantinha postura semelhante com diversas alunas na sala de orientação pedagógica, momento em que ficava sozinho com elas.
"Várias delas perceberam que tinham sofrido algum tipo de assédio sexual, mas como tudo isso ocorria quando estavam sozinhas com ele achavam que poderia ser uma coisa mais pessoal e não comentavam isso entre elas", disse Isadora Tavares.
Os relatos à polícia revelam que o professor acariciava e tocava as partes íntimas das alunas durante as orientações. As vítimas ainda contam que o professor relativizava as situações argumentando que era uma pessoa importante, mas que as alunas não davam valor ao tempo em que tinham para ficar com ele.
Após as denúncias, todas as alunas do projeto de pesquisa ligado ao professor anunciaram a saída do grupo acadêmico. Elas também realizaram um ato, em frente à universidade, onde cobraram medidas da reitoria contra os abusos dentro da instituição. Cartazes foram espalhados pelo centro da cidade cobrando que as mulheres denunciem os casos de abusos sofridos na instituição.
A Udesc se manifestou por meio de nota e informou a abertura de uma sindicância que será conduzida pela Procuradoria-Geral do Estado. Segundo a universidade, as providências serão tomadas após a conclusão da investigação.
Denúncia de estupro
A jovem de 21 anos que procurou a polícia em fevereiro para denunciar o caso de estupro conhecia o professor antes mesmo de entrar na universidade - relação de amizade que se estendia à mulher e a sogra do docente. A aluna teria sido violentada após um jantar que marcou para pedir orientações acadêmicas, segundo relato em sua denúncia.
"Ele era uma referência acadêmica para ela e tinham uma relação de amizade. Mas ele se aproveitou dessa condição", explica a advogada Daniela Félix, que representa a aluna no inquérito.
Segundo Daniela, naquele dia, os dois beberam além da conta e para que a jovem não precisasse ir embora tarde para uma das comunidades da periferia de Florianópolis, onde mora com a família, o professor ofereceu a casa para ela passar a noite.
"Como ela conhecia a família dele, achou que a mulher e a sogra estariam em casa. Mas não foi o que aconteceu", emenda dizendo que não houve violência, mas que a condição de amigos e a confiança que a aluna depositava no docente a colocou em uma situação de fragilidade.
"O estupro nem sempre ocorre com violência. O que caracteriza o estupro é a violação do corpo sem consentimento da vítima. E foi isso que aconteceu naquela noite. Ela teve uma relação não consentida com o professor", explicou a advogada.
Defesa
O advogado do professor, Hédio Silva Júnior, diz que seu cliente está abalado com as denúncias e por este motivo pediu afastamento da universidade para tratamento. Segundo a defesa, o professor nega as acusações de abuso e diz que os relatos das estudantes não trazem provas. "Em um dos casos a aluna diz que o professor olhou para ela profundamente. No fim do processo vamos provar a inocência dele", disse Silva Júnior.
Já no caso de estupro, que teria ocorrido fora da instituição, a defesa do professor diz que a relação foi consensual. "Eles saíram para jantar e beberam. Passaram a noite toda juntos, foi consensual", explica a defesa.
Reconhecido nacional e internacionalmente na pesquisa acadêmica, o professor da Udesc era um dos mais respeitados na universidade e também era tido como referência bibliográfica por muitas das alunas que o acusam pelos abusos.