As celas são apertadas; o ambiente, imundo; e os direitos, muitas vezes, postergados. As penitenciárias femininas do país se mostram um ambiente inóspito para crianças. Apesar disso, a legislação garante que a mãe e o bebê têm direito de ficar juntos pelo menos até os seis primeiros meses de vida dele. Na opinião de especialistas, isso é benéfico para ambos. O problema está no sistema prisional, que, na prática, não garante nenhum direito para a mulher ou o bebê.
No Brasil, segundo a última pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem 622 mulheres grávidas ou em fase de amamentação nos presídios brasileiros, o que representa 1,39% do total de detentas. Desse número, 249 amamentam os filhos, ou seja, permanecem com os bebês dentro dos presídios. Segundo a advogada criminalista Talita Matias de Oliveira Silva, a lei de execução penal prevê que o presídio ofereça cela especial para a mulher e o bebê, além de disponibilizar uma creche no local até que ele complete os seis meses de idade.
[SAIBAMAIS]De acordo com a defensora, não é o que acontece na maioria dos presídios do país. Antes mesmo de completar esse período, muitos bebês e mães têm seus direitos desrespeitados. E o quadro piora se a criança não tiver nenhum outro parente fora da prisão que possa se responsabilizar por ela: vai para um abrigo do Conselho Tutelar.
;Na Paraíba, por exemplo, um dos presídios tem lugar para as crianças ficarem com as mães. A parede é pintada e decorada com imagens coloridas para recebê-las. No geral, porém, essa não é a realidade. Em uns, o bebê é separado da mãe após o parto, de modo drástico, enquanto em outros ficam juntos por até seis meses;, afirma Talita Silva. ;O convívio familiar é um direito da criança e deve ser respeitado. Deveria haver uma reforma do sistema prisional, com celas melhores, com espaço para quem amamenta. É um castigo dobrado para as mães detentas e, consequentemente, para as crianças. Tem de se levar em conta o direito da criança em primeiro lugar.;
Absurdo
Além disso, segundo Soraia Mendes, muitas também esperam da Justiça uma audiência de custódia ou qualquer decisão que possa cumprir a legislação vigente. ;Elas ficam presas, sem direito ao banho de sol, trancadas o dia inteiro com os filhos. Essa é a realidade do Brasil, e isso é inadmissível. Eu já perguntei por que o juiz já não liberou essas mulheres que estão presas provisoriamente, e então me respondem que simplesmente o juiz não libera;, conta.
A Justiça, entretanto, não é feita para todas as mulheres, e isso fica claro quando há a comparação econômica. ;A Adriana Ancelmo consegue sair para ter prisão domiciliar (e ficar com os filhos), e tantas outras mulheres no Rio de Janeiro, não. Não conseguem porque são pretas, pobres;, afirma. Ela se refere à ex-primeira-dama do Rio de Janeiro, condenada por integrar organização criminosa e por lavagem de dinheiro.
;Deveria haver uma reforma do sistema prisional, com celas melhores, com espaço para quem amamenta. É um castigo dobrado para as mães detentas e, consequentemente, para as crianças. Tem de se levar em conta o direito da criança em primeiro lugar;
Talita Matias de Oliveira Silva, advogada criminalista