Diante dos mais de 60 mil assassinatos por ano que são cometidos no Brasil e em um ano que o povo brasileiro escolherá novos governantes, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu refletir sobre a violência neste período de quaresma. Com o tema ;Fraternidade e superação da violência; e o lema ;Vós sois todos irmãos;, a Igreja levará aos fieis um debate sobre as diversas formas de violência que a sociedade enfrenta, entre elas, a corrupção e a retirada de direitos dos mais vulneráveis.
Entre as diversas formas de violência citadas no texto-base, a campanha também destaca a corrupção. ;A corrupção é uma forma de violência e ela mata por isso precisa ser combatida. Uma vez que quando se desvia dinheiro público está se negando ao povo o direito à educação, à saúde, à segurança pública;, afirmou o presidente da CNBB, o cardeal Sérgio da Rocha, durante o lançamento da Campanha da Fraternidade 2018, na manhã desta quarta-feira de Cinzas.
[SAIBAMAIS]O cardeal foi enfático ao repudiar projetos que pretendem revogar o Estatuto do Desarmamento. ;É um grande equívoco achar que superamos a violência recorrendo a mais violência. Por isso, insistimos que a atitude deve ser de não violência. Não podemos favorecer o comércio de armas e a facilidade das pessoas terem acesso às armas. Queremos responder ao problema da violência com a justiça social e com fraternidade nos seus diversos níveis;, acrescentou o cardeal Sérgio da Rocha.
O secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, também aproveitou o lançamento da campanha para fazer críticas às reformas propostas pelo governo, sem citar quais especificamente. ;O texto-base não aborda isso diretamente, aborda a corrupção, mas é claro que são violências. Até o carnaval mostrou a questão da violência da corrupção e das chamadas reformas sem ouvir o povo, sem ouvir a população, sem ouvir os aposentados. Simplesmente, feitas de cima pra baixo, em vista do mercado. De repente, um grupo de pessoas se acha no dever moral de salvar o Brasil. Eu duvido um pouco, inclusive, que tenha moral para isso, dado que existem processos e questionamentos no meio jurídico;, comentou.
Paz
Durante o lançamento, uma mensagem que prega o amor ao próximo e a paz do papa Francisco foi lida. ;Sejamos protagonistas da superação da violência fazendo-nos arautos e construtores da paz. Uma paz que é fruto do desenvolvimento integral de todos, uma paz que nasce de uma nova relação também com todas as criaturas. A paz é tecida no dia-a-dia com paciência e misericórdia, no seio da família, na dinâmica da comunidade, nas relações de trabalho, na relação com a natureza;, ressalta trecho do texto.
Presente à cerimônia, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, também pregou o amor como solução, o enxergar o próximo como aliado e não inimigo e sugeriu um caminhar de ;mãos dadas e não de punhos cerrados;.
;Que sociedade emanamos quando a desconfiança e a violência é o que se prega e o que, pelo menos, se põe como a semente que pode florescer fazendo do outro não o seu irmão, mas alguém que é preciso combater. Quando outro é inimigo e não parceiro, a desconfiança pode marcar o pensamento e isso reverbera num sentimento que pode tomar conta de forma perigosa para uma sociedade que tem marcos civilizatórios de pacificação;, disse a ministra fazendo citações a Chico Buarque e ao filósofo Thomas Hobbes.
;Que sociedade emanamos quando a desconfiança e a violência é o que se prega e o que, pelo menos, se põe como a semente que pode florescer fazendo do outro não o seu irmão, mas alguém que é preciso combater. Quando outro é inimigo e não parceiro, a desconfiança pode marcar o pensamento e isso reverbera num sentimento que pode tomar conta de forma perigosa para uma sociedade que tem marcos civilizatórios de pacificação;, disse a ministra fazendo citações a Chico Buarque e ao filósofo Thomas Hobbes.