A ação começou em 1993. Jacaré passou os sete anos seguidos da morte da filha em profunda depressão. O Natal era no cemitério. A família se desintegrou. Em 1993, sua companheira à época propôs uma mudança radical e o incentivou a canalizar a tristeza fazendo o bem. Ele mesmo comprava os brinquedos, roupas e guloseimas. ;O acidente ocorreu há 31 anos, mas, para mim, parece que foi ontem;, diz. O percurso foi escolhido por estar na rota do cemitério e por ter estrada de terra. ;Outro caminho seria a rodovia. Mas, esse é onde tem pessoas simples, gente que nem sabe que tem Papai Noel. Eu via dois meninos ou um pai com filho e oferecia um par de sapato se não tinha, uma bala, um brinquedo. Já dei punhado de bala na mão de um menino que saiu pulando de alegria;, relata, com olhos marejados.
[SAIBAMAIS]No segundo ano, a companheira lhe fez uma roupa de Papai Noel. ;Eram 15h, estávamos em Crucilândia e como sempre eu não havia comido nada, pois não como nada no Natal. Pedi um refrigerante num bar, quando chegou um rapaz que dá sanduíche e brinquedo de Natal lá na cidade, dizendo que Deus havia me mandado, porque estava cheio de crianças no parque, mas não tinha Papai Noel. Expliquei que não tinha mais presentes, mas aceitei ir diante da insistência. Lá, prometi voltar no ano seguinte com presentes. A partir daí, comecei a pedir a colaboração das pessoas;, conta.
Da caminhonete, os presentes passaram para um caminhão-baú pequeno e, daí, para um caminhão e quatro carros. ;Tudo na vida tem um porquê e, não fosse isso (a perda da filha), eu não seria Papai Noel. Em todos esses anos, falhou apenas duas vezes, por ocasião de cirurgias. ;Enquanto eu choro por dentro, muitas crianças sorriem. Os olhos de um velho que pega uma cesta brilham, porque você mata a fome de uma pessoa.;
Jacaré sabe do que fala. Ele fez um raio-x de todos os beneficiados. Depois do Natal, ele costumava voltar para traçar o perfil de quem recebeu os presentes, para saber a quais famílias estava presenteando e quem realmente precisava. Segundo ele, todas as pessoas estão cadastradas ;na mente;. Em Crucilândia, ele continua a amizade e a parceria com o rapaz que o recrutou para ser o Papai Noel da cidade. Seguindo os passos do pai, Quim, apelido do amigo, continua distribuindo sanduíches durante o evento, que tem direito a guerra de guloseimas. Os voluntários, da caçamba de caminhonete, jogam balas e pipocas para as crianças se esbaldarem. ;Vejo a alegria das pessoas, o agradecimento, e como apenas uma palavra dita por alguém te engrandece e enche de esperança.;
Solidariedade
A distribuição de presentes e alimentos no Natal é tradição entre algumas pessoas. Papai Noel do Restaurante Popular de Belo Horizonte há mais de 20 anos, Mário de Assis se veste do personagem que alegra crianças e adultos para uma comemoração especial. O almoço de Natal ocorre amanhã, no Restaurante Popular II (Rua Ceará, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de BH). Brinquedos, materiais de higiene pessoal e guloseimas, como pipoca, pirulitos e balas, fazem a alegria de quem vai ao local. No Bairro Lagoinha, na Região Noroeste, voluntários da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte oferecem também amanhã um lanche, às 15h, para moradores em situação de rua.