Considerado um dos episódios mais cruéis da humanidade, o Holocausto vitimou durante a Segunda Guerra Mundial mais de 6 milhões de judeus, entre eles 1,5 milhão de crianças, mas ainda é pouco conhecido entre os brasileiros, especialmente os mais jovens. Para preencher essa lacuna, o Memorial da Imigração Judaica inaugurou a exposição permanente sobre o tema e passa a se chamar, a partir de hoje, Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto.
;Essa preservação da memória é fundamental e é feita no mundo inteiro, há museus do holocausto nas maiores capitais do mundo, então uma capital como São Paulo não podia deixar de ter seu Memorial do Holocausto;, diz o professor de história judaica Reuven Faingold, diretor de projetos educacionais do Memorial.
Desde sua concepção até sua inauguração, a mostra consumiu seis meses de preparação, com um eixo central: além de ser uma exibição de objetos, fotos ou vídeos históricos, é um local que produz um efeito sensorial no visitante. ;Tentamos fazer um museu vivo, no sentido de que o visitante sinta na pele um pouquinho do que aqueles prisioneiros sentiram;, diz Faingold.
;O visitante vai encontrar uma vitrine subterrânea com o prisioneiro e sua ração de comida, que era um pouco de batata; ele vai ver a construção de um comércio judaico em Berlim e efeitos sonoros como a quebra dos vidros dessas lojas durante a Noite dos Cristais, no dia 9 novembro de 1938. Vai ver reproduções de obras de arte que foram confiscadas de lares judaicos. Há ainda o famoso pijama listrado, tanto de adulto quanto de criança, usados pelos presos. O ponto mais alto é a barraca de prisioneiros, onde as pessoas poderão sentir o cheiro da palha que fazia às vezes de colchão, e a própria tigela que era o travesseiro do prisioneiro;, diz o diretor.
A exposição do Memorial também proporciona contato com objetos autênticos pertencentes às vítimas do Holocausto e doados por seus familiares que hoje residem no Brasil. Outra seção comovente é a que exibe desenhos feitos por crianças prisioneiras dos campos de concentração, que retratam cenas observadas durante a terrível estadia naqueles locais.
A exposição ainda exibe vídeos em uma sala especial que narram episódios da época, como a Noite dos Cristais, quando nazistas lançaram uma onda de ataques a judeus em várias regiões da Alemanha e da Áustria em 1938, ou filmes de propaganda feitos para exaltar o governo nazista de Adolf Hitler.
Radicado no Brasil há 27 anos, Faingold, de 60 anos, é descendente de judeus. Seu avô materno se refugiou na Argentina, onde ele nasceu. Para o professor, a preservação dos objetos é essencial para a história. ;No futuro não haverá mais sobreviventes, porque esses que chegaram [no Brasil] já são pessoas com mais de 80 anos. O que vai sobrar são justamente os museus e os memoriais que temos;, observou.
Para que jamais volte a acontecer
Faingold falou também sobre a importância de divulgar a exposição entre alunos e ensinar algumas definições pouco conhecidas pelos jovens brasileiros.
;É preciso falar o que é um genocídio, dar exemplos, e contar o que foi o Holocausto: foi apenas um em toda a história da humanidade, pela brutalidade, pelas etapas e a abrangência do fenômeno, pelo uso e abuso de tecnologias na indústria da morte, por todos esses motivos o Holocausto é diferente de outro tipo de genocídio;, explica. "Nós vamos tratar, dentro do possível, para que escolas estaduais com menos recursos possam vir aqui e visitar nosso memorial;, disse ele
Localizado na primeira sinagoga do Estado de São Paulo, o Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto foi fundada em 1912 e guarda um amplo e valioso acervo documental para valorizar a contribuição dos judeus ao desenvolvimento do Brasil.