Goiânia - Horas depois de perceberem a dimensão da tragédia, a comoção tomou conta de quem passou em frente a unidade de ensino que foi palco do ataque. Pais de alunos que sobreviveram ao atentado, amigos das vítimas e a vizinhos do prédio da escola se uniram para prestar solidariedade aos mortos e feridos. Carregando velas e rezando, cerca de 50 pessoas passaram a noite em frente ao Colégio Goyases.
Convocada pelas redes sociais, uma vigília pediu paz na comunidade onde a escola está localizada e lembrou os estudantes que foram vítimas do atirador. A empresária Kamila Vieira, de 30 anos, é mãe de uma aluna do colégio. Ela conta que a filha já sofreu bullying, mas logo contornou a situação. ;Minha filha também já sofreu ofensas nesta escola por parte de coleguinhas. Mas eu conversei com ela, e a escola também agiu para resolver o problema. Não entendo por que esse aluno fez isso. Só podemos orar pelos mortos e pedir a recuperação dos feridos, por isso viemos aqui;, destaca.
Os estudantes se organizam para prestar homenagens hoje e oferecer apoio aos colegas que estão internados. A enfermeira Magda Carvalho, 51 anos, foi até o local, mesmo assustada com a situação. ;Minha filha de 13 anos saiu da escola 10 minutos antes de tudo acontecer. Poderia ter sido com qualquer uma das nossas crianças. O que podemos fazer agora é pedir conforto para os parentes dos que morreram e força para os que ficaram feridos;, conta. O bairro onde ocorreu a tragédia fica afastado do centro da capital goiana. Mesmo assim, ao longo do dia, dezenas de pessoas passaram por lá e deixaram velas, mensagens e fizeram orações.
Relatos
Duas adolescentes que estudavam na sala do adolescente que atirou contra colegas, em Goiânia, afirmam que o garoto tinha comportamento distante e diverso do restante da turma. As meninas dizem que o jovem já chegou a levar um livro sobre satanismo à escola. ;Numa prova de ética dele, ele desenhou o símbolo nazista, e, em uma roda literária, ele levou um livro satânico;, relatou uma das crianças. Segundo ela, o episódio ocorreu no ano passado.
De acordo com a outra garota, o estudante era uma pessoa ;estranha e muito fria;. ;Se você fizesse uma brincadeira ele falava que iria te levar para o inferno, que iria matar sua família e te matar;, disse a menina. Uma delas afirma que houve um período em que o adolescente que realizou os disparos ocupou lugar em frente ao dela, na sala. ;Foi a época em que ele falou para mim que ia matar meu pai e minha mãe...;, lembra, confirmando que o jovem fazia ameaças semelhantes a outros alunos.
Disparos
[SAIBAMAIS]Ambas contam, contudo, que o menino jamais havia ameaçado levar uma arma ao colégio e que, a princípio, não identificaram o barulho dos disparos como sendo tiros. ;Como teria mostra científica amanhã, pensamos que tinha sido um dos projetos que tinha estourado, ou alguma bombinha. Na hora em que nós vimos a arma, saímos correndo;, relata uma das garotas. Segundo as meninas, o jovem teria começado a disparar aleatoriamente.
Amiga de João Pedro ; que morreu no atentado ;, uma das jovens o descreve como alguém que brincava com todos, mas desconhece qualquer apelido específico em relação ao atirador. Quanto a João Vitor, outra vítima, a garota o define como ;uma pessoa normal, bom aluno;.
Luto
No portão de entrada do Colégio Goyases, uma faixa com os dizeres ;Família Goyases em luto; foi afixada na tarde de ontem. Acima dela, outra anunciava a realização da mostra científica que aconteceria na escola hoje. Pouco antes das 17h, os corpos de João Vitor e João Pedro haviam sido retirados da escola e levados ao Instituto Médico Legal.
O delegado Francisco Costa, do departamento de homicídios, do lado de fora da escola, disse que a sala estava revirada, com marcas de bala nas paredes e no chão, e que havia manchas de sangue do terceiro andar da escola até o térreo. Ele afirmou que a perícia, preliminarmente, encontrou pelo menos 11 cápsulas de balas .40 na sala de aula onde estudavam os 30 alunos da turma do 8; ano.
Segundo Costa, a perícia pode ver que alguns disparos pareciam ter alvos determinados e outros pareciam ter sido efetuados de forma aleatória. Uma estudante ouvida pela reportagem disse que o atirador chegou a mirar em direção a ela por alguns segundos, mas mudou de ângulo e não a atingiu.
O colégio, segundo estudantes e ex-estudantes que circundavam o cordão de isolamento, exigia muita disciplina dos alunos. Um deles disse que já havia sido suspenso de classe porque estourou um ;estalinho;. Três alunas do 9; ano, sentadas na calçada, comentaram que há aula de ética toda semana.