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Bullying: um mal que precisa ser combatido todos os dias

Lembrado nesta sexta-feira (20/10), Dia Mundial de Combate ao Bullying serve de alerta para casos que são comuns, mas podem terminar negligenciados pela sociedade

Quando tinha oito anos, Pedro (nome fictício), fazia parte de um trio de coleguinhas na escola onde estudava. Gostava de brincar e conversar. Sentia grande afinidade por eles e não conseguia se encaixar em outros grupos, por mais que enfrentasse alguns momentos desconfortáveis. ;Eles diziam que para me manter no trio, deveria entregar uma quantia em dinheiro para cada um. Eu não entendia, mas pagava;, relata. O jeito tímido de Pedro, que se autocaracteriza como ;menos bruto; e mais sensível, foi abafado por um dos meninos. Este influenciava a terceira criança do grupo a rejeitá-lo, mesmo que de forma sutil. ;Tudo mudava para pior quando ele chegava. Eu sentia não pertencer ao grupo, mas era muito novo para ter uma noção de amizade bem definida e acabava me sujeitando;, relembra o estudante, hoje com 18 anos.

Uma década após o ocorrido, ele acredita que a divergência de interesses pode ter levado à exclusão, mas reage à situação lembrando o apoio que recebeu da mãe. ;Ela me orientava a criar novos grupos de amigos, mas só consegui quando mudei de escola. Hoje procuro pessoas mais sensíveis, com quem me identifico. Neles, encontro um perfil mais próximo ao meu e me seguro nisso;, afirma.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma em cada três crianças do mundo, de 13 a 15 anos, é vítima de bullying na escola. O desrespeito ao processo de identificação do indivíduo se torna um desafio aos pais, gestores e alunos. O Dia Mundial de Combate ao Bullying, lembrado hoje, é considerado um alerta internacional para o problema comum, mas muitas vezes negligenciado nas esferas públicas.

O professor do Departamento de Educação da UFRPE, Hugo Monteiro Ferreira, explica que a prática envolve relação de poder, continuidade e desmotivação. A violência vem daquele que não aceita a condição do outro e afeta o direito de ir e vir, falar e estudar - tudo que vem da vítima passa a ser rejeitado. ;O não posicionamento da vítima apresenta uma permuta com o agressor. O silêncio vem do não entendimento da situação pela vítima, que muitas vezes passa a rejeitar em si as características que o ofensor recrimina. Assim, começam os transtornos;, explica.

De acordo com o professor, as crianças e adolescentes devem se sentir acolhidos e compreendidos. ;O bullying traumatiza a vítima a tal ponto que não é possível superá-lo sem ajuda externa. Os reflexos nem sempre são claros. É preciso estar atento aos relacionamentos, acompanhar o rendimento escolar, identificar mudanças repentinas e ter ouvidos abertos aos sinais;, sugere.

Trabalhar a autonomia e o protagonismo das crianças e adolescentes, promover momentos coletivos, atividades físicas e rodas de discussão, músicas e textos, são alternativas de prevenção. O professor Hugo adota a meditação como alternativa para reduzir o problema. ;O bullying é um conflito violento sem diálogo. Se trabalharmos um, exterminamos o outro;.