Quando tinha oito anos, Pedro (nome fictício), fazia parte de um trio de coleguinhas na escola onde estudava. Gostava de brincar e conversar. Sentia grande afinidade por eles e não conseguia se encaixar em outros grupos, por mais que enfrentasse alguns momentos desconfortáveis. ;Eles diziam que para me manter no trio, deveria entregar uma quantia em dinheiro para cada um. Eu não entendia, mas pagava;, relata. O jeito tímido de Pedro, que se autocaracteriza como ;menos bruto; e mais sensível, foi abafado por um dos meninos. Este influenciava a terceira criança do grupo a rejeitá-lo, mesmo que de forma sutil. ;Tudo mudava para pior quando ele chegava. Eu sentia não pertencer ao grupo, mas era muito novo para ter uma noção de amizade bem definida e acabava me sujeitando;, relembra o estudante, hoje com 18 anos.
Uma década após o ocorrido, ele acredita que a divergência de interesses pode ter levado à exclusão, mas reage à situação lembrando o apoio que recebeu da mãe. ;Ela me orientava a criar novos grupos de amigos, mas só consegui quando mudei de escola. Hoje procuro pessoas mais sensíveis, com quem me identifico. Neles, encontro um perfil mais próximo ao meu e me seguro nisso;, afirma.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma em cada três crianças do mundo, de 13 a 15 anos, é vítima de bullying na escola. O desrespeito ao processo de identificação do indivíduo se torna um desafio aos pais, gestores e alunos. O Dia Mundial de Combate ao Bullying, lembrado hoje, é considerado um alerta internacional para o problema comum, mas muitas vezes negligenciado nas esferas públicas.
O professor do Departamento de Educação da UFRPE, Hugo Monteiro Ferreira, explica que a prática envolve relação de poder, continuidade e desmotivação. A violência vem daquele que não aceita a condição do outro e afeta o direito de ir e vir, falar e estudar - tudo que vem da vítima passa a ser rejeitado. ;O não posicionamento da vítima apresenta uma permuta com o agressor. O silêncio vem do não entendimento da situação pela vítima, que muitas vezes passa a rejeitar em si as características que o ofensor recrimina. Assim, começam os transtornos;, explica.
De acordo com o professor, as crianças e adolescentes devem se sentir acolhidos e compreendidos. ;O bullying traumatiza a vítima a tal ponto que não é possível superá-lo sem ajuda externa. Os reflexos nem sempre são claros. É preciso estar atento aos relacionamentos, acompanhar o rendimento escolar, identificar mudanças repentinas e ter ouvidos abertos aos sinais;, sugere.
Trabalhar a autonomia e o protagonismo das crianças e adolescentes, promover momentos coletivos, atividades físicas e rodas de discussão, músicas e textos, são alternativas de prevenção. O professor Hugo adota a meditação como alternativa para reduzir o problema. ;O bullying é um conflito violento sem diálogo. Se trabalharmos um, exterminamos o outro;.