Brasil

OAB/DF promove palestra para discutir a diversidade de gênero

Em três dias de evento, direitos humanos e saúde de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e intersexuais foram discutidos e apresentadas soluções

Aline Brito*
postado em 18/10/2017 22:04
Bandeiras do movimento LGBT ao lado do Congresso Nacional
O Brasil ainda não possui nenhuma Lei que regule crimes como homofobia e transfobia, além disso, a transexualidade ainda é considerada pela Organização Mundial da Saúde como uma patologia. A fim de debater o que pode ser feito pelo Poder Legislativo em relação ao preconceito contra a comunidade LGTBI e em relação à despatologização das identidades trans, a Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados da Seccional do Distrito Federal realizou, entre os dias 16 e 18, a segunda Semana de Diversidade Sexual. O evento busca debater os direitos humanos e a saúde de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais (LGBTI).
Nesta quarta-feira (18/10), o pilar do debate foram as identidades trans e os caminhos para que deixem de ser consideradas uma doença. O psicólogo clínico, Felipe Baére, a fundadora e diretora de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas (ABRAFH), Ana Lodi, a servidora do Governo de Brasília, Paula Benett e o ativista pelos direitos trans, Bernado Motta, conduziram as discussões sobre o tema.

O acompanhamento de crianças transexuais, foi destacado por Ana Lodi. ;As pessoas tem muito medo em falar de temas relacionados à transexualidade com crianças;, alertou. Para ela, a transexualidade deve ser tratada não como patologia, mas dar atendimento humanizado às crianças que necessitam. ;Há uma dificuldade, principalmente entre os profissionais da saúde e advogados, de tratar a transexualidade porque eles não estão acostumados com o tema, na faculdade não se fala sobre isso;, apontou. ;A gente tem uma visão que é treinada socialmente sobre gênero que é binário e sexualizada;, disse Lodi.

Toda essa desassistência agrava a situação da comunidade LGBTI e contribui para um cenário preocupante de suicídio desses indivíduos. Um estudo realizado na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, feito com, aproximadamente, 31mil pessoas, mostrou que a propensão para suicídio entre LGBTI;s, é de 20%, enquanto entre os heteressexuais é de somente 4%. Em um ambiente hostil, onde se instala a LGBTfobia, o risco de suicídio aumenta em 20%. ;Pensar o suicídio já é difícil, mas quando se pensa no suicídio dentro da população LGBTI, é ainda mais complexo;, afirmou Felipe Baére. Segundo o psicólogo, a imposição de um padrão social, é também um agravante para o suicídio. ;Gays com comportamento masculino, lésbicas com trejeitos femininos e trans que são confundidos com cis, por mais que sofram preconceito, não é tanto quanto os que mais fogem dos padrões impostos na sociedade;, apontou.

Para Paula Benett, transexual que luta pelos direitos da comunidade, o suicídio dos LGBT;s, na verdade, é um homicídio. ;Para as identidades trans, nós somos convidados a nos retirar do mundo. Então não são pessoas trans que cometem suicídio, é um assassinato social;, lamentou. ;Vivemos hoje um nazismo velado, porque vemos nuances do que o nazismo fazia com judeus e homossexuais. Eles tentam ocultar, mas somos há todo momento agredidos e agredidas;, apontou Banett.

Como transexuais que sofrem todos os dados na pele, Bernardo Motta e Paula, ocuparam seu espaço de fala e mostraram como a população trans sofre com os mais diversos tipos de preconceito, mas que, ao mesmo tempo, reúnem força e conquistam seu lugar. ;Com tantas pessoas tentando tirar nossos direitos, temos travado uma luta muito forte pela transexualidade aqui no DF;, contou Motta. O militante levantou a bandeira do respeito ao nome social, que é uma conquista da comunidade, mas que ainda precisa ser respeitada e reconhecida. ;A gente precisa trabalhar por espaços humanizados há todo tempo. É preciso que todos saiam do armário também como apoiadores da nossa causa;, ressaltou.

*Estagiária sob orientação de Paulo Silva Pinto

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