Há poucos dias, testemunhamos aterrorizados um homem atear fogo numa creche de Janaúba, em Minas Gerais, queimando e matando, além dele próprio, mais 10 pessoas, a maioria crianças de 4 aninhos. Vários permanecem internados. O número de vítimas poderia ter sido ainda maior se uma professora não tivesse enfrentado as chamas para resgatar alunos, num esforço heroico que lhe custou a vida. Neste Dia dos Professores, quero render minhas homenagens a Heley de Abreu Silva Batista, que levou às últimas consequências a sua missão. Mas também gostaria de lembrar aqui de todos os professores que, de uma forma ou de outra, salvam vidas.
Professores mal pagos e pouco valorizados diariamente resgatam crianças e adolescentes da marginalidade; devolvem-lhes a autoestima; denunciam maus tratos a conselhos tutelares; fornecem o que não se compra num mercado: esperança. Alimentam o corpo e a alma dos inocentes; aguçam a imaginação e a criatividade deles; permitem que eles sonhem com um mundo e uma vida melhores.
Todos os dias, ouço alguém dizer que a educação é a salvação deste país. Políticos, autoridades, estudiosos e especialistas em diversas áreas do conhecimento repetem isso à exaustão. Essa talvez seja a única unanimidade brasileira. Apesar disso, não vejo esforços significativos para de fato valorizar o magistério. Ao contrário.
O Estado não consegue nem protegê-los de seu próprio fracasso. A violência, decorrente de uma absurda concentração de renda e de injustiças em série, chegou às escolas e tem atingido a parte mais frágil e mais importante de nossa malha social: o professor. Imaginar um docente sendo agredido a socos ou morto a tiros por alunos dentro de uma sala de aula soa tão absurdo que parece ficção. Não é o caso. Acontece, e com uma frequência assustadora.
Professores também são vítimas de pais que deseducam. Frutos de uma sociedade baseada no consumo, que valoriza o descartável e o fútil, famílias protegem, ocultam, desculpam leviandades de seus filhos contra professores, mesmo cientes de atos de flagrante desrespeito e até de crime.
Qual a saída para romper essa escalada de violência contra o professor? Ação! Chega de teoria, de conversa fiada, de discurso. O país precisa investir em educação e, consequentemente, empoderar a figura do professor. Os pais precisam descer do salto e reconhecer a escola como uma parceira do ato de educar.
Quem não tem a lembrança de pelo menos um docente que foi fundamental durante a infância, que ocupa um lugar de destaque em sua memória afetiva? Hoje, tire um tempo para resgatar esse profissional, recordar-se do que ele fez por você, dos diálogos, do carinho e da atenção, do estímulo à leitura, do ensino de valores que se estão perdendo. Lembre-se de que todos os seus professores o ajudaram a ser quem é e a conquistar tudo o que tem, sobretudo aquilo que não se compra. Todo o meu respeito aos mestres.