O Sul do Brasil não é o único a ter um movimento separatista organizado com direito a plebiscito, o segundo realizado sábado em 900 municípios dos 1.191 dos três estados que integram a região. Inspirado no desejo da Catalunha de ser uma república independente da Espanha, o movimento São Paulo Livre, fundado em outubro de 2014, logo após a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), programa para o ano que vem um plebiscito para avaliar o grau de adesão da população à tese da independência. Será a segunda consulta, dessa vez com um número maior de cidades ; a primeira foi feita em 2016, em 18 municípios e alcançou cerca de 48 mil pessoas. A intenção agora é ouvir cerca de 500 mil eleitores em 121 municípios.
[SAIBAMAIS]Mas o movimento, fundado por Flávio Rebello, de 44 anos, microempresário, tem planos maiores para, quem sabe, viabilizar a separação, hoje proibida pela Constituição brasileira. O projeto é conseguir o número de assinaturas suficientes para criar um partido separatista. Batizado de Aliança Nacional, a legenda quer unir para separar. A sigla já tem diretórios em oito estados (SP, RJ, MT, RS, ES, PE, RO e PR), mas, para seu processo de validação começar a tramitar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é preciso mais um diretório e pelo menos meio milhão de assinaturas coletadas em todo o país.
Enquanto se articula para tentar preencher os pré-requisitos para dar entrada na papelada, a Aliança Nacional reúne movimentos separatistas de São Paulo (São Paulo Livre), Rio de Janeiro (O Rio é o Meu País), Roraima (Roraima é o Meu País), Espírito Santo (Espírito Santo é o Meu País) e Pernambuco (Grupo de Estudo e Avaliação Pernambuco Independente). Depois de viabilizar a legenda, a Aliança pretende tentar alterar a Constituição, que tem como cláusula pétrea que o Brasil é uma federação indissolúvel. ;Nada é imutável. Nem a Constituição;, afirma Rebello, que se ;encantou; com a ideia da separação depois de viver durante cerca de cinco anos na Catalunha.
Peso econômico
O principal argumento de todos os movimentos que pregaram a separação é econômico, afirma Rebello. E, de acordo com ele, os movimentos brasileiros não estão sozinhos. Para o microempresário, há uma onda separatista em todo o mundo. ;No Chile, os mapuches querem a independência;, destaca Rebello, se referindo ao país vizinho. ;Também há essa onda na Alemanha, na Argentina, no Canadá;, lembra o presidente do São Paulo Livre que também coordena a criação da legenda, que se define em sua página oficial do Facebook como ;futuro partido político, que vem para mudar tudo que aí está;.
Segundo Rebello, no caso de São Paulo, estudos feitos pelo movimento com base em dados do Ministério da Fazenda, apontam que a cada R$ 1 mil de impostos gerados em São Paulo, R$ 920 vão para o governo federal e acabam sendo repartidos com outros estados. Enquanto isso, afirma, muitos estados não apertam o cinto para conter gastos públicos supérfluos, e São Paulo ;paga a conta;.
Confiante na possibilidade de um dia ser transformar São Paulo e outros estados e regiões em nações independentes, ele assegura que seu movimento é diferente de outras tentativas de independência baseadas em princípios racistas. Segundo ele, muitos desses movimentos que nunca deslancharam pregam, por exemplo, que o estado seja formado apenas por pessoas nascidas no local. ;Se for assim, só vão restar os quatrocentões;, afirma. Para ele, o novo país deve ser formado por todos que vivem e votam no estado.
Saída para o mar
Argumento semelhante tem o movimento que busca a separação de Pernambuco, segundo o qual, a busca por emancipação vai manter os impostos no estado. ;Vamos manter todo o nosso dinheiro e os nossos problemas sem dar ou pedir nada ao Brasil. Teremos as nossas instituições, o nosso Parlamento, o nosso presidente. O Brasil é um país estrangeiro e vamos respeitá-lo como tal;, diz a proposta separatista no site do movimento.
Uma das vantagens da independência apontadas por seus líderes é o fato de Pernambuco ter acesso ao mar, o que facilitaria o comércio exterior. ;Além disso, teríamos autonomia energética, visto o nosso potencial eólico e solar.; Com menos impostos, tarifas e burocracias, segundo o movimento, Pernambuco se tornaria um lugar aberto ao empreendedorismo, o que traria empregos, tanto na indústria, quanto nos serviços. ;E, mesmo tendo grande parte do território com um clima seco, países como Israel já mostraram que é possível ter uma agricultura forte, mesmo em ambiente secos, com a ajuda da tecnologia. Vale lembrar, também, que os bilhões que hoje vão para Brasília em forma de imposto voltariam para o bolso do cidadão pernambucano, o que ajudaria a movimentar a economia;, diz o texto da proposta.
Vitória do ;sim;
O plebiscito informal O Sul É o Meu País acabou com vitória da proposta de separação dos estados do Sul para a criação de um novo país. Com 80,12% das urnas apuradas até as 20h de ontem, 96,1% dos participantes votaram favoravelmente a Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná se separarem do Brasil. Os votos contrários somam 3,9%. A participação, porém, foi abaixo do esperado: 331.378 eleitores votaram, enquanto a meta do movimento era atrair entre 1 milhão e 2 milhões de votantes.