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Artigo - Brasil aposta nos títulos verdes

No ano em que se comemora o 10; aniversário do primeiro título financeiro de dívida verde emitido no mundo, as mudanças climáticas continuam a apresentar enorme desafio para as comunidades globais. Os títulos verdes (ou Green Bonds) são um instrumento financeiro de financiamento de dívida cujos recursos são voltados para o desenvolvimento econômico sustentável. Em outras palavras, são mais uma forma para que empresas e governos levantem recursos financeiros para investimento em projetos que preservem o meio ambiente e promovam um crescimento sustentável.

Reverter os efeitos das mudanças climáticas não é tarefa exclusiva do poder público. Ele jamais ganharia essa batalha sozinho. Estudo da International Energy Agency estima que um combate efetivo às mudanças climáticas custaria algo em torno de US$ 1 trilhão por ano. Esse é o preço que teremos que pagar para evitar mudanças drásticas à vida humana e grandes desastres naturais. Apesar dos avanços conquistados, ainda estamos longe do investimento necessário.

Só no ano passado, o mercado global de títulos verdes movimentou US$ 81 bilhões. Para este ano, a expectativa é praticamente dobrar, chegando a US$ 130 bilhões. Atualmente, a China é a grande líder nesse mercado, seguida por Estados Unidos, União Europeia, Índia e América Latina.

O Brasil já faz parte do grupo dos 24 países emissores de Green Bonds no mundo. O mercado nacional já chega a US$ 3,2 bilhões emitidos até o momento. A Climate Bonds Initiative prevê que a cifra chegue a US$ 5 bilhões no Brasil até o fim do ano. Com o objetivo de reunir e discutir oportunidades para os investimentos verdes no Brasil, além de atrair capital em escala, instalou-se no país o Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Mercado, constituído por representantes das principais instituições do mercado financeiro brasileiro, fundos de pensão, bancos públicos e privados, seguradoras e empresas de diferentes setores da economia.

Na próxima semana, o Conselho assina uma parceria com o governo do Reino Unido a fim de fortalecer as relações bilaterais no setor de finanças verdes. A aproximação entre os dois países permitirá maior engajamento entre governos, empresas e investidores, além de facilitar a troca de informações e melhores práticas em desenvolvimento de tecnologias para infraestrutura, energia, agricultura e silvicultura.

Estamos indo bem, mas não suficientemente bem. Apesar dos grandes progressos nos últimos anos, o mercado global de títulos verdes ainda é pequeno diante do enorme desafio das mudanças climáticas. A economia precisa mudar. Estamos falando da transformação do sistema financeiro mundial. É isso que a China está fazendo e é para esse exemplo que temos de olhar. Ano passado, as emissões de títulos verdes na China totalizaram US$ 33,6 bilhões. Este ano, os chineses serão ainda mais ousados.

Voltando ao Brasil, o desafio agora é unir formuladores de políticas públicas e diversos atores do mercado local para criar condições que acelerem o fluxo de investimento verde, ao mesmo tempo em que proporcionem aos investidores institucionais retornos estáveis e de longo prazo. Um robusto mercado nacional de títulos verdes pode ajudar a alcançar esses objetivos e tornar o Brasil verdadeiro líder nessa agenda. Neste momento crucial na nossa história, em que investimentos são necessários para posicionar o Brasil no futuro, os Green Bonds oferecem chance real para o desenvolvimento da economia sustentável.