Jornal Correio Braziliense

Brasil

Mulher denuncia tentativa de sequestro de sua filha e racismo em MG

Mãe negra vive momentos de desespero para evitar o sequestro de seu bebê, que é branco, por mulher que usou a cor da pele para tentar convencer presentes que a criança era dela

ESTRUTURAL

;A suspeita da maternidade é apenas um fragmento das recorrentes cenas de racismo e discriminação racial que ocorrem cotidianamente no Brasil. Os últimos censos apontam que os casamentos interraciais, por exemplo, entre negros (autodeclarados pretos e pardos) e brancos não são tão comuns quanto nos parece. Herança do racismo, negros e negras quando têm filhos e filhas fenotipicamente brancos são tratados como ;cuidadores e cuidadoras; dessas preciosidades;, afirma Aline Neves, militante negra, professora da Educação Básica e Pesquisadora do Programa Ações Afirmativas na UFMG. ;Na escola, no restaurante, no parquinho, em inúmeros lugares, estará a mulher negra colocada em suspeita;, diz.

Para a especialista, o ocorrido com Jamille Edaes apresenta dois fragmentos de sofrimento para a mulher: o risco de se perder um filho e a ofensa racial, devido a difenreça genética entre amabas. "Não é difícil imaginar o medo de nome da vítima diante do risco de ter a filha roubada. Entre os dois corpos em luta pelo direito da criança, e a fragilidade do discurso de uma mulher negra, cuja filha não tem o mesmo fenótipo que o dela, está o racismo para definição da maternidade. Como pode uma mulher negra ter uma filha branca? O imaginário não nos permite aproximações, pois até mesmo a beleza é hierarquizada, os sentimentos são hierarquizados e tudo segue a favor desta mulher branca. A humilhação em ter que provar a que filha é sua, nome da vítima, é semelhante aqueles que têm seus filhos apartados de si pelo fato da vulnerabilidade, em especial em Belo Horizonte ; mães órfãs."

Segundo o cientista-social Robson Sávio, integrante do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é preciso uma investigação apurada, atenta aos perigos da rodovia. ;É preciso analisar se trata-se de uma situação pontual ou se essa mulher que teria tentando sequestrar a criança faz parte de uma quadrilha. Outra opção é que ela tenha princípios fascistas, que acredite na supremacia branca e ache que tirar aquela criança de um berço negro seria um ;favor; para ela;, disse.

Ele pondera que as estradas se tornam locais propícios para esse tipo de crime, devido à falta de articulação entre policias. ;Falta uma articulação entre as polícias Federal, estaduais e rodoviárias militares. Além do tráfico de pessoas, o de drogas e o de armas são constantes;, afirma. E mais: Todas as dificuldades enfrentadas pela vítima para conseguir registrar um boletim de ocorrência também desencorajam as pessoas a fazer o mesmo, comenta.