A chuva de toda a madrugada no Rio atrasou a elaboração e o tamanho dos tradicionais tapetes de Corpus Christi, que ficaram menores no centro da cidade. Em anos anteriores, eles eram confeccionados em toda extensão da Avenida Chile, onde se localiza a Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, mas hoje (15) ficaram restritos à entrada do templo católico.
O clima, no entanto, não desanimou os fiéis. Logo no início da manhã, com o fim da chuva, eles utilizaram diversos materiais e alimentos como arroz e feijão e sal grosso em diferentes cores para formar as figuras na entrada da Catedral Metropolitana.
;Isso não desmotivou o desejo de cada fiel de diversas paróquias do Rio de Janeiro de confeccionar o tapete como sinal de carinho e amor a Deus;, disse o cônego Cláudio dos Santos, pároco da Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro. Ele informou que o trabalho reuniu integrantes de 100 comunidades.
A professora de fotografia Bruna Prado levou alunos para registrarem essa forma de arte. ;É um acontecimento muito tradicional, que, de alguma forma, está relacionado à fé, mas usa de recursos de arte. Através da confecção dos tapetes, existe uma história, características de como são construídos aqui no Rio, com os tipos de materiais que eles usam. Em outras cidades são diferentes. Em outros países são outros materiais. A proposta é que eles atentem para esses detalhes, principalmente a parte artística da história;, disse Bruna.
Segundo ela, a extensão menor dos tapetes deste ano não atrapalhou os registros dos alunos. ;Na verdade, diminuiu bastante. Normalmente toma a Avenida Chile inteira. Porém, para a fotografia a gente se reinventa. Eles têm um desafio a mais. Para a minha proposta, tudo bem.;
Jorginete Regina Lopes da Silva é da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, da Taquara, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, e participa há oito anos da confecção dos tapetes na Avenida Chile. Este ano chegou mais tarde e a chuva não foi o único motivo.
;O tapete da minha paróquia geralmente fica bem no meio. Hoje, cheguei mais tarde por causa da violência e do tempo. Choveu demais. Por medo da violência, minha paróquia pediu que viésseemos mais tarde;, disse. Acrescentou que precisaria sair de madrugada para chegar cedo à catedral. Na paróquia de Jacarepaguá os tapetes foram preparados antes.
;Todos os anos chegamos à Avenida Chile por volta de uma hora da manhã, mas neste ano não deu por causa da violência. É muito complicado, mas temos de fazer a diferença. Temos de mostrar que não temos medo. Quando saímos de casa, temos de orar porque não sabemos se voltamos. Todos nós - jornalista, taxista, paroquiano, padre e policial - temos de orar e pedir a Deus para voltarmos.;
Joginete disse ainda que, diante da crise financeira do Rio, a confecção dos tapetes é um momento de paz para a população. ;Temos de fazer a diferença". Jorginete destacou que os desenhos são elaborados pelos próprios fiéis, que também doam os materiais.
Mateus Teixeira, da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Grajaú, zona norte do Rio, pertence ao grupo jovem da igreja, que fez um vitral com o cálice e a hóstia consagrada e não teve preocupação com a possibilidade da chuva voltar e prejudicar todo o trabalho. ;Medo a gente tem, mas tem o pensamento, Deus provê e Deus proverá. Tudo vai ser de acordo com a vontade Dele. Se chover, glória a Deus e se não chover glória a Deus também;, concluiu.