;O aspecto mais importante é que a campanha seja dirigida pelos jovens. Queremos engajar no mínimo 100 milhões de crianças e adolescentes que possam ser a voz das que são desfavorecidas. Então, a partir de internet, os jovens podem pedir aos governantes que invistam em educação e no desenvolvimento social. E, também, usar as mídias sociais para desafiar as empresas que usam o trabalho infantil na sua cadeia de produção;, disse, defendendo que é preciso investir em proteção e desenvolvimento social para as famílias, em saúde e educação.
Em todo o mundo, cerca de 168 milhões de crianças são obrigadas a trabalhar, sendo que 85 milhões delas estão envolvidas em trabalhos considerados perigosos.
A campanha foi lançada há cinco meses na Índia e em Bangladesh e, agora, no Brasil. Neste ano, mais sete países irão se engajar e, no próximo ano, mais 40. No total, em três anos, o movimento estará lançado em 100 países. ;As pessoas estão descontentes com seus políticos e, por isso, há um engajamento muito grande;, disse Satyarthi, explicando que a campanha também ocorre em parceria com uniões de professores e universidade, como Harvard, Oxford e London School of Economics.
Para a estudante Ana Júlia Ribeiro, umas das ativistas, a melhor mobilização contra a exploração infantil deve ser por meio das redes sociais. ;Temos o problema da mídia hegemônica, das informações que a mídia tradicional não quer que cheguem à população. Teremos que furar esse bloqueio através das redes sociais, do boca a boca, levando a questão para a escola, usando outros meios para expandir a mobilização;, disse.
[SAIBAMAIS]A estudante de 16 anos ficou conhecida após um vídeo viralizar nas redes sociais com seu discurso sobre a ocupação das escolas na Assembleia Legislativa do Paraná.
A iniciativa de Satyarthi é coordenada no Brasil pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com parceria temática do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Fnpeti). A agenda de lançamento contará com audiências públicas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. e com a exposição fotográfica #ChegaDeTrabalhoInfantil, organizada pelo Ministério Público do Trabalho. Haverá ainda roda de conversa com a participação do Nobel da Paz, estudantes e a comunidade escolar.
Tendência
No Brasil, 2,7 milhões de crianças e adolescentes brasileiros estão em situação de trabalho, com crescimento na população de 5 a 9 anos. Para o coordenador nacional da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a faixa etária demostra uma tendência para o trabalho infantil, o que significa que, nos próximos anos, pode haver crescimento em outras faixas etárias.
Segundo Cara, para enfrentar o trabalho infantil é preciso garantir uma política de assistência social que que traga renda às famílias, aliada a políticas adequadas de saúde e educação. ;Para enfrentar o trabalho infantil de maneira estrutural é preciso enfrentar a crise econômica, garantindo politicas sociais, e não simplesmente cortar recursos da área social;, disse.
Coordenador da campanha 100 Milhões por 100 Milhões no Brasil, Cara disse que é preciso chamar a atenção da sociedade para o fato de que existe trabalho infantil. ;É preciso informar sobre crianças que trabalham no semáforo, em casa, na zona rural, para dar visibilidade ao tema. Porque isso não é tratado na sociedade, não é debatido na imprensa. O segundo desafio é discutir alternativas ao programa econômico brasileiro e às políticas sociais que precisam ser expandidas;, ressaltou.
Para o diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Peter Poschen, o Brasil tem uma crise estrutural há muito tempo. ;Ele se manifesta nas favelas, no fato de que, a cada ano, 60 mil jovens morrem por mortes violentas. O dado comparativo é que, no Japão, morrem 6 por ano. Então, tem um problema claramente estrutural e outro que se chama recessão, o que leva à volta da incidência do trabalho infantil, do trabalho escravo e do trabalho informal;, disse.
Formado em engenharia elétrica, o indiano Kailash Satyarthi abandonou a carreira aos 26 anos para lutar contra o trabalho infantil. Para isso, fundou a ONG Bachpan Bachao Andolan (Movimento para Salvar a Infância) em 1980. Desde que foi criada, a instituição já libertou mais de 80 mil crianças de diversas formas de escravidão e ajudou na reintegração, reabilitação e educação delas. Por essa iniciativa, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2014, ao lado da ativista paquistanesa Malala Yousafzai, que na época tinha 17 anos.
As informações sobre a campanha estão disponíveis na página: www.100milhoes.org.br.