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Funai cria grupo de trabalho para acompanhar caso de indígenas atacados

Até a tarde desta terça-feira (02/5), nenhum suspeito do ataque havia sido preso



Após o ataques violento a 13 indígenas da etnia Gamela no fim de semana, a Fundação Nacional do Índio (Funai) montou uma frente de trabalho para visitar o povoado de Bahias, em Viana (MA), palco de conflitos agrários entre indígenas e agricultores. O grupo será formado por servidores da Funai de Brasília e do Maranhão e, segundo o presidente da fundação, Antônio Costa, deverá produzir um relatório sobre a situação no local para embasar as ações do órgão indigenista.

Os indígenas foram atacados por homens armados com facões e armas de fogo no domingo. De acordo com o último boletim médico, dos 7 indígenas feridos que foram atendidos em hospitais, três permanecem internados, um deles teve graves fraturas expostas nos braços e passou por cirurgia. Até a tarde desta terça-feira (02/5), nenhum suspeito do ataque havia sido preso.

[SAIBAMAIS]A Funai também irá acompanhar o inquérito policial que apura o caso. ;A partir desta tarde, as providências estão sendo tomadas para que servidores se desloquem para o local para providência de um relatório. Além disso, tem também as providências jurídicas que estão sendo tomadas pela nossa procuradoria-geral para o acompanhamento legal do inquérito junto à delegacia de Viana;, disse Costa após comandar reunião na sede da Funai em que o tema foi discutido.

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Após visitar hoje o local do conflito, o secretário de Segurança Pública do Maranhão, Jefferson Portela, disse que o estado está tomando as medidas para garantir a segurança na região e aguarda as providências dos órgãos federais. ;Não vamos permitir ações violentas. Conversamos com todo os lados envolvidos e dissemos que o estado vai garantir a integridade de todas as pessoas, a lei e a ordem;, disse.

Pelo Twitter, o governador do Maranhão, Flávio Dino, postou fotos de ofício que, segundo ele, foi enviado em agosto de 2016 pelo governo estadual à Coordenação Regional da Funai no Maranhão pedindo informações sobre as providências adotadas quanto à criação de um grupo de trabalho para estudos de identificação, demarcação e delimitação do território Gamela para evitar o agravamento de conflitos. Outra foto traz um documento com a resposta da Funai registrando que desde 2012 a instituição não dispõe de mecanismo de contratação de profissionais externos para compor e coordenar grupos de trabalho.

Também no Twitter, Flávio Dino escreveu que ;se a Funai não tem nenhuma verba para ir à região fazer estudos e reuniões, me disponho a pagar, para que haja paz;.

Por meio de nota, a Secretaria de Segurança do estado disse que as forças de Segurança permanecerão atuando no local ;para garantir a integridade física dos cidadãos, enquanto todos aguardam o pronunciamento do governo federal sobre a questão indígena em debate;.

Demarcação


Não é o primeiro ataque sofrido pelo povo Gamela, que luta para que a Funai instale um Grupo de Trabalho para a identificação e demarcação do território tradicional. Devido a morosidade quanto a quaisquer encaminhamentos pelo órgão indigenista, os Gamela decidiram recuperar áreas tradicionais reivindicadas. Em 2015, um ataque a tiros foi realizado contra uma destas áreas. Em 26 de agosto de 2016, três homens armados e trajando coletes à prova de bala invadiram outra área e foram expulsos pelos Gamela, que mesmo sob a mira de armas de fogo os afastaram da comunidade.

De acordo com o Censo 2010, do IBGE, o Maranhão tem 38.831 índios de diversas etnias, sendo que 76,3% estavam em terras indígenas. Entretanto, 9.210 estão fora desses territórios, vivendo em cidades ou áreas não demarcadas, como é o caso dos gamelas.

Representantes da etnia gamela e entidades sociais afirmam que a área de 14 mil hectares reivindicada foi concedida aos gamelas pela Coroa ainda no período colonial, no ano de 1759. Eles afirmam que, em função da colonização, das invasões e da grilagem, os índios foram progressivamente expulsos de suas terras.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) repudiou os ataques e disse que os Gamela já vinham denunciando os planos de fazendeiros para matar lideranças de seu povo. ;Não admitimos mais a morte de nosso povo e iremos até as instâncias internacionais cobrar a responsabilização daqueles que de forma descarada violam e incitam violências contra nossas comunidades confiando na impunidade de seus atos;, disse a entidade em nota.