Chagas. Era assim que ele gostava de ser chamado. E assim ficou conhecido no país. Um sobrenome que era sinônimo de análises precisas e elegantes da política brasileira. Além de jornalista, Carlos Chagas, mineiro de Três Pontas, era professor e advogado. Ontem, no fim da manhã, sua filha, Helena Chagas, ex-ministra chefe da Secretaria de Comunicação do governo de Dilma Rousseff, comunicou a morte do pai em uma rede social: ;Amigos, meu pai, jornalista Carlos Chagas, acaba de falecer. Era a melhor pessoa que conheci neste mundo;. O velório será a partir das 10h de hoje no Cemitério Campo da Esperança. O enterro está marcado para as 16h.
Morador de Brasília, ele completaria 80 anos em 20 de maio. ;Estávamos preparando a comemoração;, lamentou Helena, ontem à tarde. Ela contou que o pai se sentiu mal em casa e foi levado para o hospital. Consciente, ainda passou recomendações aos familiares, como indicar onde havia deixado o cheque para pagar o imposto de renda. Encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Chagas teve um aneurisma na aorta e morreu às 12h30. Para a filha, ele era ;exemplo de honestidade e amor à notícia;.
Carlos Chagas começou a carreira como repórter de O Globo, em 1959 e também passou pela redação do jornal O Estado de S. Paulo, sempre ligado a assuntos políticos. Ao longo da carreira, trabalhou na TV Manchete, chegando a chefiar a sucursal de Brasília, e ainda passou pela Rede TV e SBT. Até o ano passado, trabalhou na Rede CNT.
Em nota de pesar, a CNT destacou que o jornalista abrilhantou os noticiários da casa ;com o olhar apurado de quem conheceu a política por dentro;. E foi com esta intimidade com o poder que Chagas comandou o programa de entrevistas Jogo do Poder Nacional, criado por ele e, nos últimos anos, transmitidos pela CNT. Pensando em se aposentar da tevê, comunicou sua decisão à emissora no fim do ano passado. Para homenagear sua carreira jornalística ;preparamos quatro programas destacando a sua carreira e que foram ao ar em janeiro deste ano;, relembra o colega José Marcelo, que conviveu com ele nos últimos dois anos. Na sua opinião, Chagas ;sabia da sua importância no cenário jornalístico, mas não se cegava pela vaidade;.
[SAIBAMAIS]Apesar de ter deixado a tevê continuava ativo, contou Helena Chagas. ;Ele escrevia diariamente e pulicava textos na internet e em jornais do interior;. Nos últimos tempos, a família tentava convencê-lo a escrever mais um livro dando continuidade a sua análise política do Brasil.
Além de jornalista, era advogado e professor de jornalismo na Universidade de Brasília. Para o senador Cristovam Buarque, o nome de Chagas é um dos ;mais presentes na história de Brasília;, sublinhou ao descrever o amigo com quem conviveu mais intensamente quando era reitor da UnB e o jornalista lecionou por 25 anos disciplinas no curso de Jornalismo. ;Professor importante e jornalista impecável;, resumiu o senador sobre o amigo, que também escreveu ;livros fundamentais para entender o que aconteceu na história do Brasil contemporâneo;.
Emocionado, o historiador, jornalista e político Ronaldo Costa Couto lamentou a perda do amigo de longa data. Convidado para prefaciar os dois primeiros volumes da obra lançada por Chagas O Brasil sem retoques, em que analisou a história política brasileira. Costa Couto recordou a carreira do conterrâneo mineiro, que entre as atividades jornalísticas, em 1969 foi secretário de imprensa de Costa e Silva. Para Costa Couto, essa experiência foi importante para a sua obra literária ;marcante, ao mesmo tempo leve e profunda, grave e divertida;.
O presidente Michel Temer lamentou a morte do jornalista em nota oficial em que assinalou a perda ;de uma das maiores referências; do jornalismo do país. Diz ainda que o profissional foi ;responsável pela formação de mais de uma geração de profissionais de imprensa; e continuou que ;deixa como principal legado o compromisso com a verdade e a sua responsabilidade no trato da notícia. E sai de cena em um momento em que essas suas características, como homem e como profissional, são cada vez mais necessárias ao país e ao mundo;.
Casado há 57 anos com a advogada e psicóloga Enila Leite de Freitas, além de Helena, deixa a filha Claudia Maria Chagas, promotora pública; quatro netos e dois bisnetos.