Jornal Correio Braziliense

Brasil

Dia Internacional da Mulher terá protestos e também celebrações

Manifestações estão marcadas em 48 países, incluindo o Brasil. A ideia é que as mulheres parem de trabalhar, mesmo que seja apenas por algumas horas, e usem adereços roxos

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Conquistando com dificuldades o lugar que merecem no mercado de trabalho, elas se dividem entre enxergar motivos para protestos ou para comemoração hoje, Dia Internacional da Mulher. Manifestações estão marcadas em 48 países, incluindo o Brasil. A ideia é que as mulheres parem de trabalhar, mesmo que seja apenas por algumas horas, e usem adereços roxos. Na capital federal, senadoras e deputadas prometem deixar de votar nas sessões. Haverá um apitaço às 12h no Setor Comercial Sul. E uma manifestação à tarde em frente ao Museu da República.

Muitas trabalhadoras têm clareza sobre a rotina de dificuldades que enfrentam. Sair de casa todos os dias para ajudar no orçamento da família é o cotidiano da frentista Renata Ribeiro, 43 anos. ;Nós, mulheres, sabemos o quanto é difícil conseguir um emprego, mas temos que ir à luta todos os dias, e é isso que eu faço;, declarou. Renata trabalha das 14h às 22h, seis dias na semana. Pela manhã, ainda cuida da casa e dos dois filhos, de 17 e 13 anos. ;Lavar roupa, fazer faxina, cozinhar e lavar prato: são várias atividades que eu tenho que fazer. Tenho só um dia para descanso. É duro;, afirmou.

Se Renata sentiu dificuldades em conseguir um emprego anteriormente, Maria da Guia Almeida, 40, decidiu abrir um negócio com o marido. Ela mantém o restaurante há dez anos e se orgulha de sua independência. ;A mulher é preparada para estar em todas as áreas, tem capacidade para isso;, argumentou. Maria da Guia fica no restaurante por cinco horas e tira o restante do dia para cuidar da casa, levar o filho de 14 anos para a escola e cuidar das contas. ;Às vezes, sobra um tempo precioso para fazer o que gosto, que é viajar para Caldas Novas e ir ao cinema;, destacou.
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Luna Rufino, 30 anos, teve várias profissões. Foi professora, atendente, bailarina, vendedora e fez diversas outras atividades desde cedo. Há cinco meses, realizou um ;sonho distante;: abriu o próprio estúdio de tatuagem. ;É um meio que está abrindo espaço para nós, mulheres, mas é necessário que se abra ainda mais;, disse. Apesar de ter conseguido sua sala, Luna não quer parar por aí. ;Eu pretendo dar nome para o meu estúdio e conseguir mais clientes;, contou.

Para a vendedora de cosméticos Janete Macedo, 56, versatilidade é uma vantagem. ;Uma mulher independente consegue se firmar em qualquer área. É capaz de trabalhar e cuidar da casa. Eu sou assim;, disse. Janete trabalha até as 20h e ainda pega ônibus para ir para casa. Às 22h, quando chega, não tem pausa para descanso. ;São dois filhos e um neto que moram comigo. Às vezes, pedem uma ;jantinha; quando eu chego em casa. É puxado;, contou.

[SAIBAMAIS]Preconceito e poucas oportunidades são os dois obstáculos que mais desencorajam as mulheres a assumir papéis de destaque no mercado de trabalho. Apesar dos avanços dos últimos anos, a disparidade salarial entre gêneros ainda é uma das principais barreiras no mercado de trabalho. O que poucos sabem, no entanto, é que essa discrepância afeta o desenvolvimento do país

Pesquisa do Instituto Locomotiva comprova que, se o salário das mulheres se equiparasse ao dos homens, a economia brasileira teria uma injeção de R$ 461 bilhões. Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) destaca que, no mundo, os homens ocupam 68,7% dos cargos gerenciais e as mulheres, 31,3%. Em outras funções executivas, a diferença ainda é maior. Os homens estão presentes em 86,4% das posições de direção e presidência, e as mulheres, em 13,6%.

Uma das poucas a chegar ao topo foi a engenheira química Claudia Sender, 42 anos, presidente da Latam Brasil. Trabalhando como consultora, ela acabou contratada pela antiga TAM e galgou postos na estrutura. Para Claudia, o cenário corporativo, ainda dominado pelo sexo masculino, deixará de ter essa cara. ;É questão de tempo. As mulheres vêm conquistando posições de liderança no Brasil e no mundo, com um estilo diferente dos homens;, comentou.

O que provoca a perpetuação das desigualdades, tanto quanto o fator econômico, são as atitudes de machismo, discriminação e misogenismo (ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres) masculino e feminino. O levantamento do Locomotiva aponta que 21 milhões de homens acham justo a mulher assumir menos cargos de chefia porque podem engravidar e sair de licença-maternidade; 15,4 milhões de homens concordam que o marido sempre deve ganhar do mais que a esposa; e dois em cada 10 homens disseram que é constrangedor a mulher ganhar mais. Já 72% das mulheres afirmaram que o homem se sente inferior quando a mulher é mais bem-sucedida profissionalmente. Não é difícil constatar que a segregação começa dentro de casa.

Rosângela Andrade da Silva, 28, camareira, com dois filhos e casada desde os 20 anos, não pôde abandonar os afazeres domésticos para entrar para a faculdade. ;Não tive tempo;, contou. Ela trabalha das 7h às 17h, ganhando um salário-mínimo. Como a maioria das mulheres, recebe mensalmente cerca de 30% menos que o marido. ;É importante falar sobre o assunto e não fingir que ele não existe. Desde criança, meninas e meninos deveriam ser educados para conviverem e igualdade;, disse.

*Estagiário sob supervisão de Paulo Silva Pinto