O caos da segurança pública na Grande Vitória completou na quinta-feira (9/2), seis dias, com o registro de 113 mortes, superando a média mensal relatada em todo o primeiro semestre de 2016. Sob pressão, com famílias sitiadas, comércio fechado e uma crise de desabastecimento que já atinge grandes supermercados da capital, o governo aceitou negociar com as famílias dos policiais militares aquartelados.
À noite, mulheres de policiais militares se reuniram com representantes do governo para uma rodada de negociação. O grupo, que paralisa quartéis desde sábado, cobra um aumento de 43%, além de isenção total para os agentes. À meia-noite, um grupo chegou a deixar a reunião, alegando que havia um impasse e o governo não propôs reajuste. O Estado disse que a negociação continuava.
Já o movimento de adesão de outras categorias está dividido. O Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol) realizou assembleia na quinta-feira (9/2), e decidiu dar prazo de 14 dias para o governo do Estado apresentar proposta. Caso contrário, a promessa é de greve. A decisão, porém, não é unânime.
"Isso é uma proposta do Sindipol. O que está valendo para a categoria é o que foi decidido ontem (na quarta-feira, 8) no encontro das entidades unidas", afirmou Rodolfo Laterza, presidente da associação dos delegados. Ele fazia referência à decisão de nove sindicatos e associações de abrir somente as delegacias regionais até decisão definitiva da categoria, em assembleia marcada para o dia 17.
Mortes e tanques
A expectativa de que a vida voltaria à normalidade foi frustrada logo pela manhã. Os primeiros ônibus começaram a circular, mas foram recolhidos às garagens por determinação do Sindicato dos Rodoviários, após a notícia de que o presidente do Sindicato dos Rodoviários de Guarapari, Walace Belmiro Fernaziari, foi morto a tiros em Vila Velha, na Grande Vitória.
À tarde, três carros de combate blindados do Corpo de Fuzileiros Navais patrulharam bairros do município de Serra, na Grande Vitória, considerado o mais violento do Estado. No bairro pobre de Carapina Grande, também em Serra, blindados foram aplaudidos.
Pelo menos 113 pessoas foram assassinadas desde o início do motim da Polícia Militar, segundo levantamento do Sindicato dos Policiais Civis. Entre os casos está o de Isabel Elias de Almeida, de 55 anos, que saiu de casa, em Cariacica, na Grande Vitória, na tarde de quarta-feira (8/2), para comprar chinelos. Ela foi atingida por bala perdida, quando um carro passou e atirou na direção de homens que corriam na rua.
Enquanto não se chega a um acordo, moradores enfrentam dificuldades para encontrar carne, ovos e macarrão. Na quinta-feira, 9, foi mais um dia de estabelecimentos lotados, com filas para entrar nos supermercados e para o pagamento das compras. Algumas lojas interromperam o atendimento ao longo do dia por causa da superlotação.
O administrador Sebastião Guimarães, de 57 anos, comparou a situação de Vitória com a da Venezuela. "Estamos estocando alimentos, mas aqui também já estão faltando alguns produtos. Ontem (na quinta-feira, 9) minha mulher não encontrou carne."
A falta de alguns produtos foi confirmada pelo subgerente do supermercado, Adélio Ramos. "Estamos com poucos funcionários. Os que vêm trabalhar é porque a gente vai buscar em casa, já que não tem ônibus nas ruas. Alguns fornecedores também não têm feito entrega."
Outros Estados
Mesmo com promessa de reajuste de 10,22% parentes de agentes da polícia fluminense convocaram para hoje ato na frente dos quartéis cariocas, por meio de grupos de WhatsApp. No fim da noite de quinta-feira (9/2), mulheres começaram a ocupar a frente do 28.; Batalhão da PM (Volta Redonda), sentadas em cadeiras de praia.
Já familiares de PMs mineiros prometem uma manifestação nesta sexta na frente do 5.; Batalhão de Belo Horizonte.