As cidades da Grande Vitória, inclusive a capital, amanheceram nesta segunda-feira (6/2) com o comércio e as repartições públicas fechados, inclusive escolas e postos de saúde, por causa da crise de segurança pública que no fim de semana deixou o saldo de 51 mortos, além de muitos arrombamentos, saques, roubos de carros e residências.
O governador em exercício, Cezar Colnago, solicitou ao presidente Michel Temer o envio de tropas federais para restabelecer a segurança da população, até que a Polícia Militar, que está quartelada, volte a fazer o patrulhamento das ruas.
Familiares de soldados, cabos e sargentos protestam por causa dos baixos salários e impedem a saída de carros dos quartéis. Eles agem no lugar dos policiais militares, que são proibidos pelo Código Penal Militar de fazer greve ou paralisação. A pena para o PM que participar em atos desse tipo pode chegar a dois anos de prisão.
O movimento continuou nesta segunda, embora exista uma decisão judicial considerando os protestos e a greve branca ilegais. O governador Paulo Hartung está internado em São Paulo, no Hospital Sírio e Libanês, onde convalesce de uma cirurgia para remover um câncer da bexiga. Está bem e acompanha a crise na medida do possível.
Forças Armadas atuarão no estado
A atuação das Forças Armadas no Espírito Santo foi autorizada e está em fase de planejamento, segundo informações do Ministério da Defesa. O número de mortos nos últimos três dias significa um aumento de mais de 1.000% em relação a todo o mês de janeiro do ano passado, quando ocorreram apenas quatro registros no Departamento Médico Legal (DML).
O governo do estado trocou o comando da Polícia Militar e pediu o apoio do Exército, enquanto o policiamento das ruas não for retomado. Escolas, unidades de saúde, comércios e até órgãos da Justiça estão fechados. A assessoria de imprensa do ministro da Defesa, Raul Jungmann, que está a caminho de Natal (RN), informou que ele pode viajar ao Espírito Santo à noite para acompanhar de perto a situação.
Ruas ficaram vazias
A greve foi decretada ilegal pela Justiça, que determinou a saída dos manifestantes das portas dos quartéis. No entanto, na manhã desta segunda-feira, os protestos continuavam, e a polícia ainda não estava trabalhando. As manifestações acontecem em toda a Região Metropolitana de Vitória, que reúne Guarapari, Linhares, Aracruz, Colatina e Piúma.
As cidades amanheceram com a população temerosa de sair às ruas, que estão desertas. A falta de policiamento vem provocando confusão e insegurança. Um ônibus foi incendiado, uma guarita da PM foi queimada e há relatos de arrastões e assaltos a lojas. A Prefeitura de Vitória suspendeu o início do ano letivo na rede municipal. As unidades de saúde da capital não funcionarão, com exceção dos pronto-atendimentos da Praia do Suá e São Pedro.
Negociações com grevistas
O secretário de Segurança Pública, André Garcia, anunciou uma série de decisões tomadas para conter as manifestações e a violência na Grande Vitória, entre elas a suspensão das negociações com os policiais enquanto não voltarem ao trabalho de patrulhamento nas ruas e o atendimento das ocorrências.
O desembargador Robson Luiz Albanez declarou a paralisação ilegal e determinou multa diária de R$ 100 mil contra a Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Espírito Santo (ACS-PMBM-ES), a Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia e Bombeiro Militar do Espírito Santo (Asses), a Associação dos Bombeiros Militares do Espírito Santo (Abmes), a Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo (Assomes) e a Associação dos Militares da Reserva, Reformados, da Ativa da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e Pensionistas de Militares (Aspomires).
Entidades policiais se reúnem
O presidente da ACS, cabo Renato Martins Conceição, informou que representantes das cinco associações de militares estão reunidos no Clube dos Oficiais, analisando a decisão judicial que decretou a ilegalidade do movimento. A reunião deve terminar no início desta tarde. Até as 9h30 nenhuma associação havia sido notificada da decisão da Justiça.
Além de reajuste salarial, os familiares pedem o pagamento de auxílio-alimentação e adicionais noturno e por periculosidade e insalubridade. Também são denunciados o sucateamento da frota e a falta de perspectiva de carreira.
Segundo o presidente da Associação de Cabos e Soldados, Sargento Renato, há manifestantes inclusive em frente à cavalaria, Batalhão de Missões Especiais (BME), Batalhão de Trânsito e Quartel General da PM.
Órgãos e instituições paradas
O Sindicato dos Rodoviários (Sindirodoviários-ES) informou que os ônibus estarão paralisados a partir das 16h. A circulação ficará suspensa até que a situação da segurança seja normalizada.
No estado, escolas e faculdades públicas e particulares cancelaram as aulas nesta segunda. São elas:
- Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes): campi Goiabeiras, Maruípe, Alegre e São Mateus;
- Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes): campi Cariacica, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória;
- Faculdade de Ensino Superior de Linhares ; Faceli;
- Faculdade de Direito de Vitória (FDV);
- Emescam;
- Faculdade Multivix: unidades de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra e Cachoeiro;
- Escola São Domingos;
- Escola Leonardo da Vinci;
- Darwin: unidades Cachoeiro de Itapemirim, Colatina e Linhares;
- Up: todas as unidades;
- Colégio Ápice Jacaraípe;
- Escolas públicas municipais de Vitória (matutino), Vila Velha, Cariacica (período matutino), Viana e Linhares.
Os seguintes órgãos públicos estão com atividades paralisadas:
- Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MP-ES);
- Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo (TJ-ES): fóruns de Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica e Viana fechados. Expediente mantido na sede do Tribunal de Justiça;
- Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo