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Após circularem na internet, imagens do massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobum, em Manaus, que terminou com a morte de 56 detentos no primeiro dia do ano, foram compiladas em um DVD pirata que está sendo vendido nas ruas da capital amazonense. Os preços variam entre R$ 2 e R$ 3, e a demanda é tão grande que, segundo os ambualntes, o produto está esgotado.
A compilação tem oito vídeos dos assassinados e recebeu o título de "FDN x PCC, o massacre", em alusão às facções criminosas Família do Norte e Primenro Comando da Capital. Além disso, traz como "extras" uma reportagem veiculada no Fantástico, no fim de semana seguinte à chacina. A barbárie foi registrada pelos próprios presos, e há cenas de corpos decapitadas e esquartejados.
Black Mirror
Nas redes sociais, muitos têm comparado a situação com a série do canal on-line Netflix Black Mirror, que traz situações controversas a partir do uso da tecnologia. Um dos episódios mais citados é White Bear (S2E2), no qual uma mulher sem memória foge de homens armados enquanto toda a cidade a filma com celulares, sem ajudá-la. Ao fim do episódio, (alerta de spoiler), sabe-se que ela foi condenada por filmar um crime e, agora, sua pena é ser a principal atração de um parque turístico, no qual é perseguida diariamente, acreditando que vai ser morta, enquanto é filmada por pessoas que pagaram para vê-la desesperada.
Segundo o médico psiquiatra e chefe da Unidade de Saúde Mental do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Renato Antunes, a atração por cenas grotescas pode ser explicada como uma mistura de herança evolutiva com aspectos culturais recentes.
As pressões a que os ancestrais foram expostos durante milênios deixaram um legado mental e emocional na espécie humana. Algumas dessas emoções e reações primitivas são desnecessárias nos tempos modernos, mas os vestígios de uma existência anterior permanecem.No entanto, outros fatores influenciam essa atração.
"Por um lado, esse comportamento é anterior à crueldade. Desde a infância, já temos o comportamento agressivo. Por outro, somos expostos a videogames com conteúdo agressivo e que são bastante famosos e consumidos. Logo, tem a ver com comportamento natural humano, mas também social", explica Antunes. "Algumas linhas de estudo acreditam que os seres humanos mantêm uma espécie de instinto agressivo o todo o tempo. Estamos sempre pensando em coisas agressivas, mas não exercemos essas atitudes para sustentar a vida em sociedade."
Educação e cidadania
O psiquiatra explica ainda que diversos estudos apontam para a relação entre a exposição de violência e comportamento violento. De acordo com o professor, o consumo de produtos com violência não gera necessariamente comportamento violento, mas a ciência descobriu que pessoas violentas e agressivas tendem a consumir mais produtos desse tipo. "Jogar um jogo violento não significa que essa é uma pessoa agressiva, mas pessoas violentas tendem a consumir uma quantidade maior de violência e com mais frequência;, esclarece.
Para ele, o interesse pelo filme do massacre nos presídios também está ligado a uma questão de educação e cidadania: quanto maior a instrução, menor tende a ser o interesse por imagens cruéis. "É importante conseguir domar esse instinto animal. É muito querer assistir uma barbárie, é como os romanos assistindo pessoas sendo destroçadas por leões na idade média;, diz.