Brasil

Crença na impunidade abre espaço para violência no ambiente virtual

Após se manifestar nas redes sociais sobre a morte do filho em uma ação policial no Rio de Janeiro, a cantora Tati Quebra Barraco vem sendo hostilizada

postado em 13/12/2016 06:02

Enterro de Yuri Lourenço foi marcado por emoção e revolta na tarde de ontem: parentes e amigos criticaram a atuação da Polícia Militar do Rio

A cantora carioca Tati Quebra Barraco vem sendo hostilizada nas redes sociais, após a morte do filho, Yuri Lourenço da Silva, 19 anos, durante uma operação da polícia militar na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, na madrugada do último domingo (11/12). Na tarde desta segunda-feira (12/12), o jovem foi velado e enterrado em meio a protesto de amigos e parentes contra a ação da Polícia Militar. Na avaliação de especialistas, a internet e, principalmente, as redes sociais deram coragem para as pessoas expressarem opiniões diversas diante da confiança em uma falsa impunidade.

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[SAIBAMAIS]A funqueira se apresentava em Belo Horizonte no momento da operação e foi avisada sobre a morte do filho durante o show. O primeiro pronunciamento público da cantora aconteceu na manhã de domingo. Pelo Facebook, Tati lamentou o ocorrido em um post emocionado. ;Não queiram passar nunca pelo que estou passando. Não queiram sentir nunca o que estou sentindo;, publicou. Pelo Twitter, a cantora desabafou sobre a atitude da Polícia Militar. ;A PM tirou um pedaço de mim que jamais será preenchido. A PM matou o meu filho, essa dor nunca irá se cicatrizar;, comentou.

O assunto tornou-se um dos mais comentados na internet e a artista passou a receber inúmeros comentários preconceituosos que disseminavam um discurso de ódio. Os perfis da cantora foram bombardeados com mensagens que a criticavam como mãe e diziam que ;vagabundo tem que morrer mesmo;. Um dos usuários publicou: ;Era bandido o filho dela? Se for, bandido bom é bandido morto. Parabéns à equipe de serviço;. Outro ressaltava ;Respeitar a dor o ;, bandido bom é bandido morto;. Na noite do próprio domingo, a assessoria da cantora publicou nota pedindo respeito ao luto da família e repudiando as mensagens. Muitos internautas se uniram em campanha para publicar mensagens de conforto à cantora, além da criação da página em apoio.

Na avaliação do professor de direito digital do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Renato Opice Blum, a internet despertou a possibilidade das pessoas se manifestarem. ;Alguns se excedem por estarem atrás do computador, outras acabam, voluntária e dolosamente, agredindo outras pessoas, em uma situação ilícita;, analisa. Apesar de acreditar que o aparato legal ainda não é suficiente, o professor ressalta a evolução do ambiente jurídico em relação aos crimes praticados na internet. ;Uma coisa positiva é que os tribunais evoluíram e entendem que ajudar a divulgar o conteúdo, com compartilhamento ou até curtidas, pode gerar responsabilização;, afirma.

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro se pronunciou sobre o caso por meio de uma publicação na página oficial do órgão. ;É importante lembrar que não existe pena de morte no Brasil, então a justificativa de que a pessoa morta teria envolvimento com o tráfico não pode ser usada em nosso país.; Além disso, pediu que as pessoas fossem solidárias a dor. ;Pedimos que respeitem a dor e o luto de todas as mães que tiveram seus filhos assassinados e que tiveram que enterrá-los;, afirmou por meio de nota.

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