Milhares de brasileiros protestaram neste domingo (04/12) contra a corrupção na política e em apoio aos investigadores da operação Lava Jato, no momento em que o país vive um duro enfrentamento entre o Congresso e o Judiciário.
Com epicentro no Rio de Janeiro e em Brasília e, à tarde, em São Paulo, em protestos que também aconteceram em dezenas de outras cidades, os manifestantes, convocados por muitas das organizações que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff, saíram desde às ruas vestindo verde e amarelo.
"Operação Lava Jato, defendida pelo povo", dizia um cartaz exibido por um manifestante no Rio de Janeiro, que resumia a principal exigência: proteger a investigação que revelou uma rede de desvios multimilionários da Petrobras à política.
[SAIBAMAIS]
Em Brasília, 5 mil pessoas se reuniram diante do Congresso, segundo a Secretaria de Segurança, e colocaram painéis flutuantes com ratos desenhados no lago diante da entrada principal do edifício.
Um grande cartaz com a frase "Fora, Renan" decorava um caminhão de onde os organizadores incitavam os manifestantes.
Renan Calheiros, presidente do Senado, foi o principal alvo dos ataques. Aliado-chave do presidente Michel Temer e membro de seu partido, o PMDB, enfrenta uma série de investigações, várias delas ligadas à rede de subornos da Petrobras.
"É hora de que pague. Queremos limpar essa quadrilha, queremos limpar o Brasil, queremos um Brasil novo", disse na capital Emilia Duarte, 56 anos, que segurava um pequeno boneco inflável com a imagem do juiz Sérgio Moro vestido de super-herói.
O jovem magistrado de Curitiba se tornou símbolo da batalha contra a corrupção depois que suas decisões enviaram à prisão empresários e importantes figuras políticas.
O líder da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, outro aliado de Temer e primeiro na linha de sucessão presidencial, também foi questionado.
"Fomos às ruas para apoiar o impeachment de Dilma, mais os políticos não podem relaxar, têm que saber que continuaremos na rua contra todos eles, contra essa corrupção generalizada", desabafou a artista plástica Paula Suarez, 51, que participou da manifestação em São Paulo.
"Queremos que a manifestação popular, nas ruas, traga mudanças de verdade para o Brasil", acrescentou sua amiga, Marilene Nicolossi, 51, em um protesto que reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista.
Luta de poderes
A crise política vivida pelo país e que levou ao impeachment de Dilma e à sua substituição pelo governo de Michel Temer teve um novo capítulo esta semana, quando a Câmara dos Deputados aprovou em plenário uma iniciativa que permite acusar juízes, procuradores e promotores de abuso de autoridade.
Ironicamente, o projeto de lei que obteve meia sanção na madrugada da última quarta-feira surgiu de uma iniciativa dos próprios promotores e contou com o apoio de mais de 2 milhões de assinaturas.
Mas os deputados alteraram drasticamente seu conteúdo e adicionaram uma emenda que permite acusar procuradores e juízes de abuso de autoridade.
Para os membros do Judiciário, este projeto representa "o começo do fim da Lava Jato".
A decisão levou a equipe de procuradores da Lava Jato a ameaçar com uma renúncia coletiva. Na mesma noite, Calheiros tentou fazer com que o Senado debatesse o polêmico projeto com caráter de urgência, provocando a revolta de muitos brasileiros, que bateram panelas em diferentes cidades em sinal de protesto.
Neste domingo, Calheiros divulgou uma nota oficial dizendo que "as manifestações são legítimas e devem ser respeitadas (...), o Senado continua permeável e sensível às demandas sociais".
"É a primeira vez que as pessoas estão protestando juntas. Esperamos que todos os grupos e divisões ideológicas se unam", disse Sergio Giacomo, professor universitário de 50 anos, no Rio de Janeiro.
Muitos também pediram o fim do foro privilegiado, que impede que políticos com cargos em vigor sejam julgados pela Justiça comum.
"Aqui há trabalhadores, motoristas de ônibus, professores. Trabalhadores que estão fartos da institucionalização da corrupção em nosso país", disse Joana Darc, também professora, 51 anos, que protestava na Avenida Atlântica, em Copacabana.
O pacote de leis que o Congresso busca montar para limitar as ações do Judiciário coincide com a assinatura de um acordo de delação premiada entre as autoridades e a empreiteira Odebrecht, que teve um papel central na confabulação política-empresarial da Petrobras e que fornecerá muitos nomes novos à lista de suspeitos.
Por France Presse
O pacto assinado prevê uma redução das condenações dos envolvidos em troca de informações sobre o caso.