Sob o impacto da tragédia com o voo da LaMia, que transportava o time da Chapecoense, os brasileiros questionam: acidentes por falta de combustível em voos fretados podem acontecer no Brasil? Autoridades e setores da aviação civil atestam que os riscos aumentam quando se tratam de aviões particulares e de companhias pequenas, muitas vezes constituídas por uma única aeronave, o chamado ;TAC;: táxi-aéreo clandestino, uma espécie de ônibus pirata do ar.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é importante frisar que as normas podem ser diferentes em cada país e que a aeronave boliviana, acidentada na Colômbia, não estava sob legislação brasileira. Aqui, de acordo com a Anac, os regulamentos que preveem operações aéreas comerciais e privadas destacam a obrigatoriedade de cálculo correto do combustível para voo. Caso não seja cumprido, o piloto e operador da aeronave estão sujeitos a multas, suspensão e até a perda da habilitação.
;Entre as companhias de grande porte, que concentram 98% do mercado de aviação brasileiro, Gol, Latam, Azul e Avianca, dificilmente haveria um acidente por falta de combustível, em razão do rigor das normas da Anac para o abastecimento de aeronaves a jato;, afirma o ex-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas Marcelo Ciriotti.
Acidentes fatais causados por pane seca, como o que matou 71 pessoas na madrugada da última terça-feira, perto de Medellín, na Colômbia, são raros no Brasil. Nos últimos 10 anos, 14 pessoas morreram devido a quedas provocadas por falta de combustível, sendo 13 em voos particulares e uma em aviação especializada. No mesmo período, o Brasil registrou 1.294 acidentes em território nacional, entre 2006 e 2015. Os dados fazem parte de um relatório divulgado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) em 2016, mas não contemplam os números deste ano.
Regulação
O Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC 121) define os requisitos de suprimento de combustível para todas as operações com aeronaves a jato: os tanques devem ser abastecidos com a quantidade necessária para voar da origem ao destino da viagem com um adicional de 10%, mais uma previsão para pouso em um aeroporto alternativo (mais distante) e um acréscimo de 30 minutos. Esse é o suprimento de combustível mais frequentemente requerido, considerando as rotas das empresas brasileiras.
Para o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Proteção ao Voo, Francisco Cardoso, o piloto da empresa boliviana foi descuidado ao não considerar critérios básicos de segurança. ;Se ele tivesse cumprido a nossa legislação, ele voaria até o destino, depois até uma alternativa, caso o aeroporto estivesse fechado, mais meia hora de voo e alguns minutos de espera em uma terceira opção. Ninguém faz um voo de três mil quilômetros com autonomia para três mil quilômetros;, enfatiza Cardoso.
Comoção
A comoção causada quando um voo regular cai provoca receio nos passageiros que precisam embarcar em um avião. Mas, segundo relatório do Cenipa, acidentes com voos regulares representam 1,46% do total. Ocorrências com aviões particulares lideram, seguidos pelos usados em formação de pilotos, agrícolas e táxi-aéreo.
Segundo Cardoso, casos de pane seca são raros no Brasil porque os seguros das aeronaves não cobrem esse tipo de problema, cuja responsabilidade pode ser atribuída a um erro de cálculo ou à negligência do piloto. ;Na realidade, esses meninos morreram pela ganância do piloto, que é dono da empresa. Ele tinha duas opções ao longo da rota para abastecer, mas não parou. É uma companhia pequena, prestando serviço essencialmente para clubes de futebol. Eu acho que o piloto pisou na bola ao não parar nas duas opções que ele teve para abastecer;, critica. Em uma situação hipotética em que dois aviões reportem falta de combustível ao controlador, ;a prioridade de pouso é daquele que tem mais passageiros;, completa Cardoso.
[SAIBAMAIS]
O comandante Mateus Ghisleni, responsável pela Secretaria de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, diz que ;o planejamento é feito sempre considerando a pior situação, esperando o melhor;. E tranquiliza: ;Os pilotos brasileiros são bem treinados e estão sujeitos a uma legislação rígida. Não à toa são disputados atualmente por grandes empresas da China, do Qatar e dos Emirados Árabes;.
A avaliação é certificada pela ICAO, entidade internacional de aviação civil que regula o transporte aéreo, conhecida pelo rigor e pelo excesso de zelo em suas normas técnicas e padrões operacionais, em que o Brasil é o quarto país do mundo em segurança de voo. À frente do país estão somente Coreia do Sul, Cingapura e Emirados Árabes Unidos, aponta o organismo.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui