Ainda que, na sua inocência, ela acredite que guardará só coisas boas, precisará sobreviver dia a dia com uma herança de memórias dificílimas de administrar ao longo da vida. E ela não é a única. Brasília já tem uma geração de crianças órfãs vítimas da violência doméstica. Como lidarão com isso? Impossível prever.
Todos os dias, as autoridades concedem 32 medidas protetivas da Lei Maria da Penha a mulheres do DF. A cada 20 dias deste ano, um homem matou uma mulher covardemente, e apenas porque ela se deu ao direito de romper um ciclo de agressões que já não suportava. Disseram ;não;, mas eles não suportam ouvir um ;basta!”. Foram educados e criados numa sociedade machista que desconhece o direito de uma mulher ter livre arbítrio e desejo de liberdade. Para eles, ou as mulheres são deles ou de mais ninguém. Não suportam a negação, a rejeição e o direito alheio.
A figura da mulher vista como inferior causa danos diversos, e não apenas numa relação conjugal. Também na semana passada assistimos a um espetáculo de horror quando um homem atropelou a própria mãe. Ainda que grotesca, a cena está longe de ser incomum. Em entrevista ao Correio, publicada hoje no caderno de Cidades, a juíza Rejane Suxberger, da Vara de Violência Doméstica de Sobradinho, conhecida por aplicar de forma rigorosa a Lei Maria da Penha, reconhece a frequência assustadora de histórias como essa. E diz, de forma muito apropriada, que o álcool e as drogas ilícitas não podem ser usados como desculpa para justificar tais condutas. Afinal, eles não bebem e saem por aí batendo em qualquer um na rua. Eles voltam para casa e espancam mulheres, sejam elas namoradas ou amantes, sejam elas filhas ou mães. Exatamente por entender o quanto são vulneráveis. São uns covardes. Precisamos puni-los e educar melhor nossos meninos. A saída é esta.