Brasil

Em Belo Horizonte, quartos de hotel são usados como escritórios

Uma rede de hotel quer oferecer espaço em um sistema que ficou conhecido como coworking. Hoje, 40 quartos já são usados com essa finalidade

Agência Estado
postado em 16/05/2016 10:25

Saem as camas e a televisão, entram mesa e cadeiras para reuniões. Quartos estão sendo transformados em escritórios na rede hoteleira para reduzir perdas com excesso de oferta e baixa procura por hospedagem em Belo Horizonte. Com aproximadamente 30 mil vagas, a capital tem hoje forte ociosidade tanto em dias úteis como em fins de semana. Além da transformação do local de dormir em área de trabalho, hotéis passaram a ser usados também para a realização de festas particulares, com DJs incluídos como atração.

A redução no faturamento do setor e a busca por alternativas para elevar receita ocorreu principalmente depois da Copa do Mundo de 2014. Para a competição, foram construídos na cidade 34 hotéis, que aproveitaram incentivos para se juntarem aos 180 que já existiam na cidade.

Ao mesmo tempo, com a crise econômica, houve redução no turismo de negócios, que predomina na capital mineira. O resultado foi a demissão de 211 mil pessoas no setor nos 12 meses encerrados em fevereiro, aponta a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas Gerais (Abih-MG).

Segundo a Hotel Invest, consultoria que realiza um panorama nacional e latino-americano sobre o setor, o ano será difícil para os hotéis em todo o País, mas a situação é especialmente grave em Belo Horizonte, onde há uma clara superoferta. Segundo dados apurados pela Hotel Invest em abril, a taxa de ocupação do município é de 47%, a mais baixa entre as capitais nacionais pesquisadas, como Salvador, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Para uma operação ter um ponto de equilíbrio, fontes do setor dizem que a ocupação precisa girar em torno de 60% dos quartos.

Criatividade
É por isso que os administradores de hotéis na capital mineira estão em busca de alternativas. "O que preciso é colocar as pessoas dentro dos nossos estabelecimentos", afirma o diretor de marketing da administradora Vert Hotéis, em Belo Horizonte, Bruno Guimarães. A rede pretende chegar até julho com 10% dos 545 quartos que tem na cidade sendo utilizados como escritório.



[SAIBAMAIS]A rede quer oferecer espaço em um sistema que ficou conhecido como coworking - em que diferentes empresas dividem um mesmo espaço. Hoje, 40 quartos já são usados com essa finalidade. "Pode parecer pouco, mas é importante ressaltar que, dentro do hotel, as pessoas tendem a utilizar também o restaurante e outros serviços, contribuindo para o crescimento do faturamento", ressalta Guimarães. Os quartos separados para o coworking são utilizados principalmente para reuniões ou realização de cursos.

Hotéis em todo o Brasil sempre alugaram salões geralmente disponíveis no térreo dos prédios ou nos andares inferiores para reuniões e congressos. "O problema é que o custo é muito alto para colocar uma área como essas para funcionar. Um exemplo de despesa que sobe muito nesses casos é a com ar condicionado", frisa o diretor de marketing da Vert.

Economia
A empresária Vanessa Alcice, que atua no setor de treinamento de pessoal, encerrou o contrato de aluguel da sala em que trabalhava e passou a utilizar o sistema de coworking em um hotel de Belo Horizonte. "Além da locação, pagava também secretária. Havia ainda os gastos com luz e telefone", conta Vanessa. Conforme a empresária, que paga R$ 30 por hora no sistema de quartos transformados em escritórios, seus custos com a mudança na forma de trabalho foram reduzidos em 70%.

A presidente da Abih em Minas Gerais, Patrícia Coutinho, que é proprietária de um hostel em Belo Horizonte, conta que o planejamento que buscou para ampliar receita foi a realização de festas, mesmo para quem está ou não hospedado em seu estabelecimento. "A criatividade tem de ser usada nesse momento", diz.

De acordo com a empresária, os preços das tarifas de hotel hoje são equivalente aos praticados em 2010. "E os custos, principalmente com água e luz, aumentaram muito", compara a empresária.

Em algumas redes, a saída foi usar o terraço dos prédios para a realização de festas - a organização e a contratação do DJ fica por conta do próprio hotel. O modelo da atração já tem até nome em inglês: "roof top". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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