Jornal Correio Braziliense

Brasil

Zika é capaz de agir no cérebro, infectando e matando células neuronais

É mais um indício da relação entre o micro-organismo, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, e a microcefalia


Pesquisadores brasileiros identificaram que o vírus zika provoca a morte e prejudica o crescimento de células do sistema nervoso. Em estudo desenvolvido pelo Instituto D;Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os cientistas mostraram que o vírus ataca células do cérebro humano em desenvolvimento, reduzindo a viabilidade e o crescimento ; um indício de que a microcefalia pode ser, de fato, causada pelo vírus.

;Os resultados sugerem que o vírus zika anula a neurogênese (formação de neurônios) durante o desenvolvimento do cérebro humano;, diz o texto, pré-publicado em uma revista científica internacional. Para chegar aos resultados, foram feitos testes em organoides parecidos a um cérebro humano em desenvolvimento infectados pelo vírus. Os chamados ;minicérebros; são gerados em laboratório a partir de células-tronco humanas reprogramadas.

;Os organoides cerebrais representam excelentes modelos para a investigação de distúrbios de neurodesenvolvimento, uma vez que podem mimetizar, in vitro, várias características da formação do cérebro humano, nos ajudando a desvendar os mecanismos de diversas doenças;, esclareceu o neurocientista do Idor e da UFRJ, Stevens Rehen, líder da pesquisa.

De acordo com o estudo, o zika, além de destruir as células, reduziu o crescimento dos organoides em 40%. ;Estes resultados podem desvendar algumas das principais características da infecção por zika no cérebro em desenvolvimento;, disse a coautora Patrícia Garcez, professora adjunta do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, especializada em microcefalia.

Em 28 de novembro, o Ministério da Saúde confirmou que o aumento de casos de microcefalia era relacionado à epidemia do zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. De acordo com análises feitas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi apontada a presença do vírus em líquido amniótico de duas mulheres cujos filhos foram diagnosticados com microcefalia. O vírus foi também encontrado no sangue e nos tecidos de um bebê com a malformação, que não resistiu após o nascimento.

Em fevereiro, pesquisadores da Eslovênia chegaram a resultados parecidos, com base em análise de neurônios de um feto com graves danos cerebrais: uma mulher eslovena foi contaminada pelo zika no início da gravidez, quando visitou o Brasil, e optou por realizar um aborto ao saber da condição do feto. A Organização Mundial da Saúde (OMS), entretanto, ainda não confirmou a correlação e segue realizando estudos acerca do tema.

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