Um dos homens mais poderosos do meio de entretenimento do País, Fernando Altério, chamou alguns jornalistas na manhã desta quinta, 25, para soar um alarme: "Se não tivermos mais a Lei Rouanet, poderemos ver o fim do mercado de musicais no País". Ele falou em uma sala reservada no mesmo instante em que sua empresa, a T4F, anunciava, em outro ambiente, a estreia do musical Wicked, um produção de R$ 15 milhões captados pela Rouanet.
Altério se referia à decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de negar a aprovação da lei para projetos com "alto potencial lucrativo" e que "possam atrair investimentos privados". O Ministério da Cultura (MinC), por sua vez, não recorreu da decisão, sinalizando que está alinhado com o entendimento do TCU, pelo menos até que seja aprovada pelo Congresso a nova lei de incentivos, com vários pontos modificados da Lei Rouanet, chamada Procultura.
O termo levantado pelo TCU, "potencial lucrativo", é subjetivo, no entendimento de Altério: "Segundo dados do próprio MinC, 43 musicais tiveram seus projetos aprovados e captaram R$ 51 milhões (em 2015). Eu acredito que todos esses 43 projetos têm potencial de lucro. Quando se diz então que eles não devem ter Lei Rouanet, entendo que todos os musicais caem por terra".
Ele diz que essa é uma mudança de curso que viria no pior ano possível para o setor de entretenimento. "Se analisar o site do MinC, vai ver que, mesmo com renúncia fiscal, somente 23% de todos os projetos aprovados conseguem captar o que precisam. Se não houver renúncia, serão apenas 5%. Não vejo nenhuma possibilidade de se substituir os patrocínios vindos da Lei Rouanet por outros. Seria o fim dessa indústria dos musicais."
Fora do eixo
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, tem insistido para que a nova lei tire o foco de concentração dos investimentos feitos pelas empresas do eixo Rio-São Paulo. Hoje, cerca de 80% dos projetos aprovados estão na Região Sudeste.
Fernando Altério é cético com relação a essa tentativa de se valorizar outras regiões. "Sabe o que vai acontecer? As pessoas (empresários) não vão aplicar, escuta o que eu estou dizendo. As pessoas não vão aplicar nessas coisas que não dão retorno. Ninguém vai aplicar em uma banda regional do interior da Paraíba, que seria o sonho de todo mundo." Mas não seria essa a grande mudança de pensamento?, pergunta o jornal O Estado de S Paulo. "Mas não vão aplicar, não adianta mudar a lei. Se hoje apenas 23% dos projetos conseguem captação de verbas, imagine sem a lei. Não vão aplicar. E sabe o que vai acontecer? A Lei Rouanet vai esvaziar." Ele diz que aplicar dinheiro em um projeto requer investimento dos empresários e gastos que garantam, por exemplo, a colocação da marca e o acompanhamento da realização. Quer dizer o seguinte: em um ano de crise, a proposta deve ser muito interessante para ganhar hoje um financiador. "As empresas não encaminham simplesmente o dinheiro para Lei Rouanet apertando um botão. Essa empresa não vai aplicar o dinheiro em projetos que não vão dar retorno apenas para destinar o que pagaria em Imposto de Renda. É o meu ponto de vista, depois dos 15 anos em que mexo com esse negócio."
O jornal O Estado de S.Paulo pergunta ainda se não está se esticando um "cabo de guerra" entre as empresas de entretenimento e o MinC. Se não existiria a alternativa de se sentarem para negociar saídas, como a redução do preço do ingresso por parte dos produtores em troca da continuidade das políticas públicas. "Não existe esse cabo de guerra porque o ministério não se posicionou formalmente, ainda. Se ele falasse ;não vou mais aprovar projetos na Região Sudeste; ou ;não vou mais aprovar musicais;, a gente poderia se manifestar.
Shows
Na contramão de todo o cenário, Altério tem uma boa notícia para o setor de shows. Sua empresa sente o termômetro atingindo altas temperaturas. "É um ano bastante bom para shows internacionais". Sua explicação aponta para um efeito colateral da própria crise. "Estamos nos beneficiando de um fator específico: os gastos dos brasileiros no exterior caíram 62% entre janeiro de 2015 e janeiro de 2014. E muitas pessoas deixaram de fazer viagens. Elas precisam se divertir e acabam fazendo isso sem sair do País E, então, nós temos: Coldplay, todos os ingressos esgotados; Rolling Stones, todos os ingressos esgotados; Maroon Five, todos os ingressos esgotados."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.