Jornal Correio Braziliense

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Ensaio incentiva mulheres a terem orgulho do cabelo crespo ou cacheado

Projeto visa mostrar a crianças que ter o cabelo cacheado é algo natural

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Presos ou alisados. Assim, mulheres envergonhadas por terem cabelos cacheados mantêm os fios para não se tornarem alvo de preconceito. Mas, a fotógrafa Carolina Castro, 28 anos, encontrou um modo de rechaçar a vergonha por assumir o estilo afro: idealizadora do projeto Alisa não, mãe!, ela produziu um ensaio com crianças e adolescentes com cabelo crespo. O objetivo é conscientizá-las de que o look não deve ser motivo de constrangimento, mas de apreciação.

"Queria presenteá-las com o ensaio para mostrar que eram muito bonitas;, conta. ;Mas, fiquei com medo de ser mal interpretada por não ter o cabelo cacheado", admite a fotógrafa, que reuniu 16 meninas, entre 4 e 16 anos, todas da cidade mineira de Araxá. O projeto mostra diversos comportamentos dos cabelos: presos, soltos, balançando, e apresenta uma expressão de alegria das modelos.

[SAIBAMAIS]A ideia surgiu quando uma colega de Carolina lhe contou que não gostava do cabelo cacheado da própria filha, pois tem o mesmo tipo de fios e, durante a infância, havia sofrido preconceito por isso. "Eu achei curioso o que ela me falou e me interessei pelo assunto. Comecei a procurar na internet e vi que muitas mulheres queriam reaver o cabelo que mantinham escondidos", recorda.

Carolina, então, descobriu a fotografia como forma de valorizar o cabelo afro. A intenção foi mudar o pensamento daquelas crianças que se envergonhavam do estilo por achá-lo feio. Durante o processo fotográfico, Carolina colheu depoimentos das mães ; que foram com os cabelos alisados ; e das crianças envolvidas, para entender melhor a opinião delas sobre o assunto. "A minha filha não sofreu preconceito ainda, mas eu fico reparando que as coleguinhas da escola olham diferente para ela", relatou uma das mães.

A influência da sociedade pesou para essas mulheres optarem por mudar o penteado e induzir as filhas a fazer o mesmo. "Existem mulheres que, para serem aceitas no trabalho, preferiram alisar os cabelos. Outras sofreram tanto preconceito na infância que não quiseram mais manter o cabelo assim", comenta. "A repercussão foi muito maior do que eu imaginava, eu só tinha pretensão de fazer bem apenas às crianças e mães envolvidas".

Mudança de perspectiva
Carolina afirma que, após a conclusão do projeto, que durou aproximadamente 2 meses, diversas mães têm optado por deixar o cabelo natural, sem usar produtos químicos que os modifica, devido ao resultado do ensaio.

Ela conta que, depois do projeto, entendeu que o processo de alteração do cabelo não é simplesmente estético, mas exige aceitação própria e um trabalho para resgatar as origens. "É um processo que vem de dentro, de se gostar. Eu vejo muitas mulheres inseguras para se encaixar no padrão", ressalta a fotógrafa, mãe de uma menina de 4 anos ;completamente apaixonada pelos cachos que tem e que não deixa cortá-los por medo de perdê-los".

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Carolina afirma que não é crime ter o cabelo alisado ou não gostar do formato que ele tem, desde que esta seja uma decisão própria e não influenciada pela sociedade. "Que as pessoas tenham liberdade, sejam seguras por quem são, elas podem alisar, desde que queiram, não por imposição social".