Depoimentos de oito funcionários da Samarco, entre gerentes e analistas ouvidos pelo Ministério Público Estadual, reforçam a constatação de promotores de que houve falhas da empresa na hora de planejar e de colocar em prática o plano emergencial para minimizar os impactos do desastre de Mariana. A informação é do promotor Mauro Ellovitch, um dos integrantes da força-tarefa criada pelo MP mineiro para investigar causas e desdobramentos da tragédia.
Para o professor Klemens Laschefski, integrante do Grupo de Estudo em Temáticas Ambientais da UFMG, um plano de emergência consistente poderia minimizar os impactos para pessoas e meio ambiente. ;Pelo menos daria mais tempo de as pessoas saírem de suas casas, o que poderia reduzir a quantidade de vítimas. Também não houve nenhum tipo de preparo para lidar com os estragos ao longo do Rio Doce;, afirma.
[SAIBAMAIS]Em 24 de novembro, o Estado de Minas mostrou que, se a Samarco tivesse adotado um plano de emergência há seis anos, a providência teria salvado a vida de trabalhadores e de moradores de Bento Rodrigues, além de minimizar os impactos ao meio ambiente às economias de Minas e do Espírito Santo. Em 2009, a RTI (Rescue Training International), contratada pela mineradora, elaborou um plano estratégico vasto, abrangendo unidades no Pará, no Espírito Santo e em Mariana. Nada foi colocado em prática, conforme informou ao EM o diretor da RTI, Randal Fonseca.
A proposta incluía até treinamento da população para evacuação de possíveis locais atingidos por um rompimento de barragem, além de apontar a necessidade de obra civil, especialmente com relação aos diques das represas. Segundo Randal Fonseca, a negativa da mineradora em adotar o plano na época foi explicada pela crise econômica. Outro plano, menos completo, entrou no lugar. Em 2012, a RTI apresentou novo estudo, com informações complementares, como a retirada de cadeirantes das áreas de risco, mas o projeto também foi aposentado pela direção da mineradora.
Em abril do ano passado, a Samarco apresentou à Superintendência Regional do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Região Central Metropolitana, vinculada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, um plano de contingência para caso de risco ou acidentes, especialmente com relação à comunidade de Bento Rodrigues. O documento, para autoridades ouvidas na semana passada pelo Estado de Minas, não surtiu efeito prático, sendo ;muito diferente do plano de emergência elaborado em 2009, que era mais completo;.
A Samarco informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o plano de contingência aprovado pelos órgãos competentes foi cumprido integralmente pela empresa, que prontamente mobilizou Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Prefeitura de Mariana. Em conjunto, esses órgãos estão realizando as ações de resgate e auxílio às vítimas do acidente.