Para analistas de mercado, ainda é difícil prever se e quanto a Vale terá de gastar do próprio caixa para cobrir perdas com o rompimento da barragem da Samarco, em Minas Gerais. No entanto, já há relatórios que estão revisando para baixo as expectativas de resultados financeiros e operacionais em 2016 e 2017. A retração ocorre num momento nada alentador. A Vale também está sujeita à queda do preço do minério de ferro. Relatórios dos bancos Credit Suisse, Bradesco, BTG e Bank of America Merrill Lynch já traçam cenários de retração.
Analistas estimam que, inicialmente, o acidente na Samarco vai afetar o fluxo de caixa da Vale e reduzir o seu Ebitda (sigla em inglês que significa lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, em outra palavras, o lucro obtido com a operação do negócio).
Historicamente, a empresa repassa dividendos à Vale. No ano passado, eles somaram US$ 402 milhões. O Credit Suisse, por exemplo, previa que os dividendos poderiam chegar a US$ 460 milhões no ano que vem e a US$ 412 milhões em 2017. Agora, em função das graves proporções do acidente, estima que a Samarco não poderá repassar nenhum centavo. Assim, o Ebitda da Vale teria uma retração de 7% e 6% respectivamente em 2016 e 2017, segundo relatório do banco. Em sua análise, o BTG lembra que em 2015 a Samarco representaria 4% do Ebitda da Vale.
A lama do acidente danificou uma das correias que transportam o minério da mina de Fábrica Nova para a planta de Timbopeba, afetando a produção. A queda estimada pela Vale é de 3 milhões de toneladas neste ano e de 9 milhões em 2016. Por causa do acidente, a produção total da Vale será inferior às expectativas até pelo menos 2017. Em seu relatório, o Merril Lynch reforça que talvez sejam necessários três anos para uma recuperação.
A grande incógnita é quanto vão custar as perdas ambientais e sociais. O relatório do Bradesco lembra que o seguro da Samarco, da ordem de US$ 1,7 bilhão, está relacionado a perdas operacionais; no entanto, frisa que há um limite para a quantidade de indenização de seguro para ser usado para penalidades e perdas civis - que é menor até que a multa de R$ 250 milhões aplicada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A Samarco fechou acordo com o Ministério Publico para pagar R$ 1 bilhão e estuda a estruturação de um fundo para cobrir perdas. Porém, os analistas não arriscam estimar os custos para a Vale. Consideram que o impacto do acidente ainda não pode ser dimensionado e que é imprevisível saber quais responsabilidades e penalidades vão recair sobre a Vale, bem como sobre a BHP, que também é sócia na Samarco.
Preço em queda
O preço do minério de ferro caiu 1,8% na terça-feira, 24, no mercado à vista chinês. A tonelada seca foi cotada a US$ 43,40, o menor valor do histórico do The Steel Index (TSI), que compila os dados desde novembro de 2008.
A retração reflete as preocupações com o setor siderúrgico e o aumento de produção das mineradoras, criando um descompasso entre oferta e demanda. Na China, o menor ritmo do crescimento tem reduzido a demanda por aço e pressionado há mais de um ano os preços. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo