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Onda de lama avança e interdita praias no litoral do Espírito Santo

Rejeitos de mineração continuam devastando litoral capixaba três dias depois de invadir o mar. Interdição de praias e impactos na fauna e flora já são registrados

Paula Carolina
postado em 25/11/2015 09:15
Lama deslocou-se ainda mais ontem sobre o litoral do Espírito Santo: 5km ao sul, 20km ao leste e 30km ao norte da foz do Rio Doce
Três dias depois de invadir o litoral capixaba, a onda de rejeitos de mineração liberada após o rompimento da Barragem do Fundão, em 5 de novembro, em Mariana, na Região Central de Minas, continua fazendo estragos no mar do Espírito Santo. Peixes mortos, impactos oceanográficos na fauna e flora da foz do Rio Doce e áreas marítimas adjacentes, transferências de tartarugas e interdição de praias são alguns dos problemas enfrentados no estado vizinho.

[SAIBAMAIS]Ontem, no sobrevoo realizado por técnicos do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), foi identificado que o tsunami de lama deslocou-se 5 quilômetros ao sul, 20 quilômetros ao leste e 30 quilômetros ao norte da foz do Rio Doce. Segundo especialistas, o deslocamento desta lama recebe influencia do comportamento das ondas e da direção do vento.

A lama da barragem da Samarco também fez com que o município de Linhares interditasse duas praias da região da foz do Rio Doce: Regência e Povoação. De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Rodrigo Paneto, a medida foi adotada de forma preventiva.

A praia de Regência, considerada paraíso para surfistas, teve um dia atípico. Acostumada a ser palco de esportistas vindos de diversas cidades, ontem, quase nenhum se arriscava a entrar no mar. Nas redes sociais, muitos deles lamentaram a chegada da lama à praia. ;Difícil ver essa cena. Essa lama tóxica de Mariana invadindo Regência, um paraíso que tive o prazer de conhecer;, escreveu Pedro Scooby. Já Robson Barros da Rocha, presidente da associação de surfistas do vilarejo, lamentou: ;Estou tão triste com essa lama que nem consigo entrar no mar;.

INDENIZAÇÃO DE PESCADORES
A Federação das Colônias e Associações dos Pescadores e Aquicultores do Espírito Santo (Fecopes) entrou na 2; Vara Cível de Linhares, no litoral norte do estado, com uma ação coletiva de indenização na qual representa cerca de 3 mil trabalhadores. Eles foram atingidos pelo derramamento de lama do Rio Doce após o rompimento da barragem em Mariana.



O advogado Leonardo Amarante, que defende a federação, disse que aguarda a decisão da Justiça sobre a concessão de uma liminar em que foi pedido o pagamento de pelo menos um salário-mínimo para garantir a sobrevivência dos profissionais que estão impedidos de exercer o trabalho. A Samarco informou, por meio de nota, que ainda não foi notificada sobre a ação, mas assegura que mantém entendimentos para atender às famílias atingidas pelo rompimento da barragem. ;A empresa reforça que está em constante negociação com autoridades públicas competentes para tratar da melhor solução em relação às famílias atingidas que vivem às margens do Rio Doce;, informou.

Ontem, também foi acatado o pedido de busca e apreensão contra o Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental (Sanear) com o objetivo de obter os laudos relativos aos exames sobre a qualidade da água em Colatina, uma das cidades capixabas banhadas pelo Rio Doce e afetadas pela tragédia de Mariana. A ação foi ajuizada pelo promotor do Meio Ambiente de Colatina (ES), Marcelo Ferraz Volpato.

O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) explica que o pedido foi feito porque o Sanear não passou os laudos ao órgão como combinado. Na segunda-feira, resultado divulgado pela prefeitura apontou níveis de manganês na água, tidos como dentro do aceitável pela legislação. Ontem, a captação de água do Rio Doce foi novamente interrompida, segundo a Prefeitura de Colatina, em razão da turbidez da água.

O Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo também determinou que a mineradora Samarco apresente, até 2 de dezembro, um plano para evitar demissões em massa na cidade de Anchieta, no litoral capixaba. Em relação aos trabalhadores de Minas Gerais, a companhia tem que apresentar, no dia 27, plano de garantia de emprego para trabalhadores diretos e indiretos durante audiência na sede do Ministério Público do Trabalho, em BH.

SEGUROS
Ontem à noite o juiz Menandro Taufner Gomes, da 1; Vara da Fazenda Pública Estadual, Registros Públicos e Meio Ambiente de Colatina (ES), determinou que no prazo de 72 horas a Samarco apresente todas as apólices de seguros e resseguros que cobrem os danos causados pelo rompimento da barragem em Mariana. Em caso de descumprimento da decisão, a mineradora será multada em R$ 1 milhão por dia. O juiz acatou pedido de liminar do Ministério Público Estadual, que alegou, nos autos, que, ;consoante fato público e notório, noticiado em todo o território nacional e até nas mídias internacionais, houve despejo de toneladas de rejeitos de minério de ferro na Bacia do Rio Doce, formando uma ;lama; que destruiu, e ainda destrói, este ecossistema, sujeitando a danos difusos, coletivos e individuais homogêneos incalculáveis, todas as localidades cortadas pelo rio e seus afluentes;. (Com agências)

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