Jornal Correio Braziliense

Brasil

Cursos d'água atingidos pela onda de lama de barragens agonizam

Agora, transportam transtorno e ameaças de doenças

Mariana, Barra Longa, Governador Valadares e Naque ; O olhar de Viviane Siqueira, de 35 anos, clama por socorro enquanto ela observa, incrédula, o tsunami de lama causado pelo estouro de duas barragens da Samarco, na área rural de Mariana, causando a maior devastação ambiental de Minas Gerais, com reflexos graves até o Espírito Santo. Especialistas sustentam que mais de 100 nascentes foram soterradas e que a recuperação do ecossistema consumirá décadas e pode nunca ser total.



[SAIBAMAIS]O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) informou que realiza ;uma série de análises preliminares sobre a situação das águas;. Contudo, continua o órgão, o laudo definitivo só será divulgado depois de comparações entre os testes. ;É um risco a divulgação de informações isoladas, como níveis de metais;, justificou o Igam.

;A mineradora pescou tudo;
Governador Valadares e Naque ; ;Tenho 50 anos de beira de rio. Vi descer peixe morto de tamanho que nunca pesquei na vida. A mineradora passou e pescou tudo.; O lamento é do pescador Aloísio Miranda Diogo, de Naque, uma das cidades à margem do Rio Doce que sofrem com a poluição causada pela lama das barragens da mineradora Samarco, que matou toneladas de peixes nos últimos dias. Aloísio é um dos seis pescadores profissionais da cidade que, depois de terminar a piracema, em fevereiro do ano que vem, não sabem o que vão fazer, já que o barro não para de escoar rumo à foz.

Uma semana se passou desde que o rejeito de minério elevou o nível do rio, obrigando a Represa de Candonga, no município de Rio Doce, a abrir as comportas, liberando o material que arrastou o que tinha pela frente. Sobretudo os peixes, que nesta época do ano sobem rumo às nascentes para desovar. A reportagem do Estado de Minas voltou a percorrer trechos do rio e não se vê melhora em relação ao começo da semana, já que a água continua vermelha e barrenta, situação agravada pelo mau cheiro do apodrecimento dos peixes. A população continua sofrendo, seja com a falta de água, seja com a paralisação de empresas e pequenos empreendimentos.

Em Naque, município de 6 mil habitantes, no Vale do Aço, o desastre mudou a rotina de muita gente. Uma pequena balsa, que fazia a travessia de famílias e estudantes, parou e a única opção foi a canoa, guiada pelo canoeiro Antônio Martins, que chega a fazer cinco travessias em um dia. ;Dá tristeza, o cheiro na margem está piorando por causa do sol, a gente não sabe quando tudo vai melhorar;, afirmou Eliene Gomes, monitora de uma escola municipal. Não bastasse o transtorno, as famílias correm risco já que a rota é feita sem coletes salva-vidas. (RD)