Jornal Correio Braziliense

Brasil

Florestas Plantadas e Consumo de Água

Elizabeth de Carvalhaes - O impacto das mudanças climáticas nos recursos hídricos disponíveis atualmente no mundo é notório e crescente. Considerado o bem mais essencial à vida, a água tornou-se "a" preocupação de governos, empresas e também do cidadão comum. Como sua quantidade na natureza é sempre a mesma, muito embora a sua qualidade venha se deteriorando gradualmente m função do irreversível processo de urbanização, é determinante tomar medidas para sua preservação e garantia do abastecimento. Este será um dos temas de destaque durante a Conferência do Clima, a COP21, que ocorrerá em dezembro deste ano e deverá definir um Novo Acordo Climático para o período pós-2021.

O nosso planeta deve atingir uma população de 9,5 milhões de habitantes em 2050 e continuará sob os impactos das mudanças climáticas e da crescente demanda por alimentos, fibras, energia, bioprodutos e recursos cada vez mais escassos; não é possível, portanto, não reconhecer a necessidade imediata de uma mudança substantiva nos padrões de consumo e produção. A indústria de árvores plantadas no Brasil vem aprimorando suas práticas de manejo e de gestão da paisagem, para aumentar a eficiência de suas operações e produzir mais com menos recursos naturais (terra, água, nutrientes).

As florestas plantadas ; assim como qualquer atividade humana ; consomem água em seu desenvolvimento e manutenção, e se bem manejadas, geram significativos benefícios para a sociedade (por meio de produtos essenciais para o dia a dia); para a comunidade do entorno (gerando emprego e renda); e para o ambiente (manutenção dos recursos e a regulação do fluxo hídrico).

Investimentos em tecnologia e em melhoramento genético, aliados às práticas modernas de manejo florestal tornaram possível triplicar a produtividade florestal e realizar inúmeras rotações por um período de mais de 50 anos na mesma área, garantindo assim a sustentabilidade dos ciclos naturais e a manutenção dos recursos hídricos.

Um bom exemplo de ganhos de eficiência encontra-se na produção de celulose, considerando-se a quantidade necessária para a produção de uma tonelada: 1970 2015 Área (em m2) 1 700 1 000 Água (um m3 corresponde a mil litros) 200 m; de 22 m; a 40 m;

Constata-se que as tecnologias de reuso de água empregadas atualmente permitem outros empregos para este importante recurso natural. Além disso, do volume de água efetivamente captado, 80% retornam ao seu ponto de origem, 19,7% retornam à atmosfera por evaporação e apenas uma parcela mínima de 0,3% fica no produto.

De olho na necessidade de preservar esse recurso, ações como plantios em sistemas de mosaicos, monitoramento de bacias hidrográficas e aprimoramento de práticas de manejo para mitigar potenciais impactos, são cada vez mais presentes no setor.


Nos mosaicos, as árvores plantadas para fins industriais se integram com a vegetação natural, permitindo a formação de corredores ecológicos, em uma gestão integrada da paisagem que possibilita a regularidade na disponibilidade de recursos hídricos, conservação do solo e das nascentes de rios. Os plantios florestais intercalados com as florestas naturais garantem a regulação do fluxo de água. Por isso é fundamental ter árvores preservando as nascentes para manter o fluxo hídrico durante todo o ano.

As análises e a gestão das microbacias permitem entender as condições hídricas das regiões e como as ações do homem na paisagem afetam a quantidade e a qualidade desse recurso. Indicadores ambientais das microbacias apontam se as práticas de manejo florestal podem garantir a disponibilidade de água para a produção florestal e para as demandas de uso na sociedade. As ações de manejos agrícola e florestal devem focar na proteção das áreas críticas das microbacias, a fim de garantir sua resiliência.

Essas ações, aliadas à capacidade das florestas plantadas brasileiras de estocar cerca de 1,7 bilhão de toneladas de gás carbônico retirados da atmosfera, elevam a importância do setor nas metas do governo brasileiro para combater as mudanças climáticas e atender às demandas que devem ser definidas na COP 21.

Elizabeth de Carvalhaes é Presidente Executiva da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores)