O ato do Grito dos Excluídos, que ocorreu hoje (7) na Praça da Sé, no centro da capital paulista, lembrou as mortes ocorridas nas escadarias da catedral na última sexta-feira (4). Os participantes deram um abraço simbólico na igreja, onde ocorreu o fato, que teve como desfecho a morte de duas pessoas. Uma delas era o pedreiro Francisco Erasmo de Lima, de 61 anos, que tentou desarmar um homem que mantinha uma mulher refém, segundo informações da Polícia Militar. Inicialmente, o ato seguiria para a região da Luz, conhecida como cracolândia, mas, devido a chuva, a manifestação foi encerrada, por volta das 12h30, no mesmo local da concentração.
Paulo Pedrini, coordenador da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo e integrante da coordenação estadual do Grito dos Excluídos, lembrou que o ato já estava marcado para a Praça da Sé, mas ganhou um simbolismo especial com o fato da última sexta-feira. ;O rapaz morava aqui na praça, era um morador de rua, e acabou dando a vida para salvar alguém que nem conhecia. Um excluído que dá uma lição dessa para a sociedade;, disse. O ato, que ocorre tradicionalmente no 7 de Setembro, é organizado por pastorais sociais, movimentos populares e centrais sindicais.
[SAIBAMAIS]Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral de Rua, chamou a atenção para a exploração midiática do fato. ;É a espetacularização da tragédia humana. O que se viu foi transformar isso em um espetáculo com a busca pela audiência;, avaliou. O papel da mídia faz parte do tema do Grito dos Excluídos deste ano Que País é Este, Que Mata Gente, Que a Mídia Mente e Nos Consome. Lancellotti criticou a abordagem da mídia em identificar bandidos e heróis nesta história. ;Os dois são vítimas do mesmo sistema;, destacou. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não deu informações sobre o andamento das investigações.
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O ato na Praça da Sé começou às 9h com uma missa. Durante a Homilia, Dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, lembrou a situação de imigrantes e refugiados pelo mundo. ;Temos que ter abertura para acolher aqueles que vivem situação de conflito que vêm em busca de paz;, declarou. Ele destacou que é preciso agir com solidariedade e trabalhar para que se estabeleça o diálogo e se supere o clima de guerra. A crise migratória e o papel dos brasileiros na recepção desses povos também são temas abordados nesta edição do Grito dos Excluídos, que completa 21 anos.
A irmã Margareth Silva, coordenadora do Centro Referência e Acolhida para Imigrantes, participa do ato os todos anos e reforça a necessidade de se construir um ambiente de solidariedade para acolhida de estrangeiros e para combater a xenofobia. ;São pessoas excluídas do mundo, que já não tem uma pátria, paz, que são perseguidos religiosos, que não tem sequer uma língua, porque vão ter que adaptar a uma nova realidade;, disse. O centro é um equipamento da prefeitura de São Paulo, administrado Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras). Segundo Margareth, com um ano de funcionamento, pessoas de 35 nacionalidades passaram pelo centro ; haitianos e sírios, na maioria.
Ana Caroline Garcia, da Rede Ecumênica de Juventude, participou do ato para reforçar a necessidade de política para os jovens e de ações de combate ao genocídio da juventude negra. ;Faltam locais de lazer, educação de qualidade, políticas de participação;, afirmou. Em defesa da pauta dos trabalhadores, Edson Carneiro, conhecido como Índio, da Intersindical, destacou que as categorias precisam estar nas ruas, especialmente neste 7 de Setembro. ;Na nossa opinião, não há independência política sem independência financeira. Vivemos em um país com muitas amarras com o sistema financeiro;, destacou.