Uma montanha de ferro velho, contaminada com ácidos e derivados de petróleo de diferentes tipos, cresce no Brasil, alimentada por mais de 4 milhões de toneladas a cada ano. O lixo é formado por alguns dos maiores ícones da modernidade, os automóveis, mas ainda inclui motocicletas, caminhões, ônibus, máquinas de diferentes tipos, aviões, trens e navios.
O país, sétimo maior fabricante de carros, não tem regulamentação específica para cuidar do que sobra deles no fim da vida útil. É assim também com outras sucatas, como as de navios e de aviões. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada há cinco anos, em agosto de 2010, não prevê regras para dar um fim às carcaças. No vácuo da falta de regulamentação para a aposentadoria dos veículos, órgãos públicos, empresas e antigos donos se eximem de responsabilidade.
Hoje e ao longo dos próximos quatro dias, o Correio apresenta uma série de reportagens especiais sobre o impacto ambiental desses cemitérios de lata, os transtornos causados pelo lixo e o desperdício de recursos que ele representa. Com entrevistas e dados exclusivos, a partir de fontes dispersas, o jornal conseguiu montar o quebra-cabeça que dá a dimensão do problema para o país.
Uma frota de abandonos
A cada ano, o Brasil coloca nas ruas cerca de 3,5 milhões de novos veículos, que se juntam a uma frota estimada em cerca de 46,5 milhões de unidades. Só na cidade de São Paulo são abandonados, em média, 500 veículos por ano. ;É muito difícil estimar a vida útil média de um automóvel, mas trabalhamos com cerca de 20 anos;, afirma o professor Alexandre de Oliveira e Aguiar, do Programa de Mestrado Profissional em Administração - Gestão Ambiental e Sustentabilidade da Universidade Nove de Julho (Uninove), de São Paulo. Ele é autor, em parceria com José Joaquim Filho, de um dos poucos trabalhos sobre o assunto publicados no Brasil.
O constante aumento da frota faz com que a montanha se torne cada vez maior. No Distrito Federal, o número de veículos mais que dobrou, saltando de 775 mil para 1,56 milhão nos últimos 10 anos.
De acordo com o estudo, além das ameaças de natureza biológica representadas pelos veículos abandonados ; como abrigo para vetores de doenças ;, eles contêm riscos de contaminação química, pela presença de combustíveis, óleo lubrificante, fluido de freio, líquido de refrigeração, líquido do reservatório do lavador do para-brisa, combustível no reservatório de partida a frio, gás do sistema de ar condicionado e óleo dos amortecedores. ;Os veículos, em fim de vida, têm potencial poluente, com componentes perigosos que podem trazer riscos à saúde;, diz o professor.
Uma tentativa de enfrentar o assunto tramita no Congresso Nacional, apresentada pelo deputado catarinense Décio Lima (PT). O projeto do parlamentar inclui veículos automotores e seus componentes entre as cadeias abrangidas pela logística reversa, no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos, responsabilizando a indústria pela destinação adequada do veículo no fim da vida útil.
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