Jornal Correio Braziliense

Brasil

Estudo mostra aumento de casos de câncer oral na faixa de 30 a 44 anos

Estimativa é que neste ano sejam diagnosticados cerca de 15 mil novos casos

Um estudo feito por pesquisadores do Instituto A.C. Camargo mostrou que o número de casos de câncer oral no mundo duplicou na faixa entre 30 e 44 anos, principalmente entre os homens. Quando se compara o período de 2001 a 2010 ao de 1991 a 2000, verifica-se que nessa faixa etária a incidência entre os homens subiu de quatro para dez casos a cada 100 mil habitantes. Entre as mulheres, o número passou de dois para cinco. O estudo foi feito pela epidemiologista Maria Paula Curado.

Estima-se que neste ano sejam diagnosticados no Brasil cerca de 15 mil casos da doença. Este é o sétimo tipo de câncer mais comum no país ; 70% a 80% dos diagnósticos ocorrem quando a doença já está em fase avançada. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca),15 mil brasileiros serão diagnosticados com câncer oral em 2015. No mundo, a previsão é de 14 milhões de casos novos e de 8 milhões de mortes. Destes, o câncer de cavidade oral representa 300 mil casos novos e (2,1%) e 146 mil mortes (1,8%) em ambos os sexos.

Segundo o diretor de Cabeça e Pescoço do A.C. Camargo e presidente do 5; Congresso da Academia Internacional de Câncer Oral, realizado em São Paulo, Luiz Paulo Kowalski, esse tipo de câncer esteve historicamente associado a homens mais velhos, tabagistas e consumidores de álcool. ;O que mais preocupa é que alguns desses tumores em pacientes jovens estão associados à infecção pelo HPV em dois terços dos casos. Isso está sendo investigado, porque não temos nenhuma informação sobre quais são as reais causas nesses casos.;

Kowalski chamou a atenção para uma das ferramentas que poderiam ser usadas, a partir de agora, para prevenir a doença no futuro: a vacinação contra o HPV também para os meninos. O sistema de prevenção já é usado para meninas a partir dos 12 anos. ;O que precisamos ter agora é um resultado satisfatório de redução da incidência e mortalidade pela doença. Se não começarmos agora, isso não vai acontecer.; Além disso, o médico alerta que é preciso evitar contato com saliva e objetos de outras pessoas que possam estar contaminados.

De acordo com Kowalski, muitos dos diagnósticos são feitos tardiamente porque as pessoas não percebem nenhuma alteração, já que a doença não causa dor, sofrimento ou incômodo. ;Isso acontece nas fases mais avançadas da doença. Na fase inicial, não dói. Então, os pacientes têm feridas, caroços na boca e na garganta e não dão muita importância, passam semanas e meses com os sintomas sem tomar uma atitude. Muitas vezes, quando vai ao médico ou ao dentista, que não é especialista, ele não suspeita dessa lesão inicial.;

Kowalski ressaltou que é preciso ficar atento a lesões que durem mais do que duas ou três semanas. Tais lesões podem aparecer em qualquer ponto da boca, mas normalmente são observadas na língua ou embaixo dela. ;As lesões do câncer de boca podem ter aparência de lesões comuns. Por isso, as pessoas acabam achando que são coisas corriqueiras. A diferença é o tempo que elas duram. Todo mundo que já teve uma afta sabe como dói.;

Leia mais notícias em Brasil

O tratamento é a cirurgia e, para os casos mais avançados, o complemento com quimioterapia ou radioterapia. Podem ainda ser recomendadas as duas coisas. ;Conseguimos remover tumores de tamanhos diferentes e fazer reconstruções que trazem uma boa reabilitação funcional e estética. Mas existem avanços que trazem menos efeitos colaterais.;

Charles Cleber Silva Cysne, de 43 anos, foi diagnosticado com a doença em julho de 2011. Ao fazer um exame de rotina, descobriu o câncer na amígdala esquerda. Pouco antes, ele já havia percebido um inchaço em um linfo no queixo, mas não deu muita atenção a isso, porque não sentia dor. Após passar por consulta com o clínico geral, ele foi encaminhado a um oncologista especializado em cabeça e pescoço, que diagnosticou o câncer.

;O tumor já estava adiantado e era dos mais complicados. Daí em diante, segui o que mandaram fazer: três quimioterapias, que foram satisfatórias. Fiz outras três sessões e 38 radioterapias. Mesmo assim, fizeram uma cirurgia para retirar 18 linfos, por prevenção. O tratamento durou nove meses. De lá para cá, é só cuidar das sequelas, que são dores musculares intensas, infecções de ouvido e perda da capacidade de salivação;, disse Charles Cysne.

Na mesma época, ele teve a notícia de que sua mulher, com quem era casado há quase 20 anos, estava grávida. ;Foi todo tipo de emoção misturado. A vida muda totalmente. Muda com a criança, e o câncer leva mais longe ainda. A época da rádio foi muito difícil. Era olhar ela [criança] e, ao mesmo tempo, fazer o tratamento. Minha filha acompanhou tudo e até hoje me dá força e sabe quando estou mal.; Charles, que fez 46 anos sexta-feira (10), disse que nunca se importou muito com datas comemorativas, mas agora comemora todos os dias, agradecendo por ter tido mais uma chance.