Os médicos residentes do Hospital São Paulo, unidade ligada à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entraram em greve hoje (23/6) para reivindicar melhoria nas condições de trabalho. Com isso, o atendimento nos ambulatórios foi suspenso, e apenas casos de emergência serão atendidos.
Na última quinta-feira (18/6), o conselho gestor do hospital decidiu suspender os atendimentos para cirurgias não emergenciais e tratamentos especializados, em função da superlotação e da crise financeira. A unidade informou que há demanda excessiva de pacientes no Serviço de Urgência e Emergência, por causa da desestruturação de outras unidades de atendimento de saúde públicas, seja por falta de médicos ou por falta de recursos.
Um dia depois da suspensão das cirurgias eletivas, a Secretaria Estadual e Saúde anunciou o repasse emergencial de R$ 3 milhões para socorrer a unidade. O Ministério da Educação, por meio da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), também repassou recursos para o hospital, a fim de permitir que as cirurgias fossem retomadas.
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Segundo o médico residente Klaus Nunes Ficher, presidente da Associação dos Médicos Residentes da Escola Paulista de Medicina, as condições de trabalho são insalubres, e não permitem o exercício digno da profissão. Além disso, são antiéticas, uma vez que ;não se consegue dar à população o atendimento com qualidade;.
Ele disse que, no mês passado, os médicos ficaram sem tomógrafo, porque não havia dinheiro para pagar a manutenção. ;Também faltam antibióticos, o que dificulta o tratamento de pacientes graves, do Pronto Socorro e da terapia intensiva;, afirmou.
Ficher destacou que, com a greve, cerca de 4 mil consultas ambulatoriais deixarão de ser feitas. "O pronto socorro vai funcionar com apenas 30% da sua capacidade. Atualmente 1,1 mil médicos residentes trabalham no local. Os pacientes que realmente precisam, ou apresentam algum risco, serão atendidos. O que define uma urgência ou emergência é um protocolo internacional, que estabelece que uma triagem deve ser feita pela enfermagem, com base no exame físico e na história do paciente;.
De acordo com o médico residente, a categoria está em constante negociação com a diretoria do hospital. ;Boa parte de nossa pauta depende de fatores externos à universidade. A Unifesp sofreu um corte no orçamento de 40% do repasse do governo federal, o que impactou diretamente no atendimento do Hospital São Paulo;.
A dona de casa Maria da Conceição Caetana Barros, de 59 anos, é paciente da unidade, onde fez cinco operações, devido a uma trombose. Ficou fora do estado de São Paulo por um período e agora, ao retornar, teve indicação de outro hospital para retomar o tratamento. ;Eu trouxe uma carta, e nem com isso fui atendida. Vim da zona leste. É muito difícil, não só para mim, mas para a população toda. O tratamento que fiz aqui foi de bom para ótimo, mas agora não estou conseguindo ser atendida;.
Maria José de Oliveira, aposentada de 55 anos, não sabia sobre a greve, e teve uma surpresa ao chegar ao hospital. Ela precisava fazer um exame para levar ao médico, em uma consulta marcada para amanhã. ;Eu não apoio essa greve, porque vai acabar morrendo muita gente que precisa de atendimento. É muito difícil. Eu tive o diagnóstico de hepatite C e estou fazendo os exames para começar o tratamento;, disse.
Por meio de nota, a direção do HSP/HU/Unifesp informou ter recebido as reivindicações e trabalha para que sejam atendidas. ;Estamos nos esforçando para manter o atendimento à população. Se houver necessidade, o hospital reforçará a equipe médica;, diz a nota.
Segundo a direção, a instituição tem dialogado com todas as categorias, e está em constante negociação com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e o Ministério da Educação sobre o repasse da verba destinada ao Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), além de contactar a Secretaria de Saúde do Estado e do Município.