Jornal Correio Braziliense

Brasil

Padre excomungado celebra missas independentes em Minas Gerais

Inconformado com a punição, sacerdote atrai multidões de devotos e desperta uma cisão na comunidade de fiéis de um dos municípios mais católicos do estado



Segundo André, o valor da venda de 10 mil m; por R$ 1,088 milhão ; negociação que ocorreu após uma supervalorização imobiliária na região ; serviu para quitar as parcelas restantes da área total, adquirir uma casa paroquial no valor de R$ 280 mil, reformar igrejas e capelas pertencentes à paróquia, além de construir e reformar casas de pessoas carentes ; o que, segundo o padre, não seria permitido pela diocese. À exceção do dinheiro direcionado aos mais necessitados, todo o montante arrecadado e gasto constava na prestação de contas enviada à diocese, que, mesmo aprovada em 2012, não aliviou a punição imposta pelo bispo.

Desde então, o que se viu em Alfenas foi uma queda de braço entre o padre e a diocese, entremeada de acusações, decretos e repreensões, que serviram para dividir a opinião dos moradores. Em 15 de setembro, o bispo dom José Lanza emitiu uma repreensão canônica, alegando que o padre, ao explicar os motivos de seu afastamento à comunidade, havia feito discurso ;altamente agressivo, com afirmações injustas e inverídicas; contra ele. O sacerdote foi obrigado a pedir desculpas diante dos paroquianos. Dez dias depois, mesmo aceitando o pedido de perdão, o bispo emitiu um preceito (similar a um decreto) impondo afastamento a André de qualquer celebração pública, por um ano, além de outras restrições que, caso não cumpridas, poderiam culminar no afastamento definitivo.

O religioso não cumpriu as ordens episcopais e, desde outubro, passou a celebrar missas em sua casa. Com o crescimento do número de fiéis nas celebrações restritas, o padre decidiu criar, em março, a Igreja Católica Independente, que segue os mesmos ritos e preceitos das missas tradicionais. A criação culminou na excomunhão latae sententiae (ou automática, sem julgamento) de padre André, pelo delito de cisma (recusa de sujeição ao sumo pontífice). Segundo o Código de Direito Canônico, comete-se o delito de cisma por duas maneiras: quando alguém se nega a se submeter ao papa, negando sua autoridade; e quando se nega a comungar com os membros da Igreja. O delito é punido automaticamente com a excomunhão, cuja a competência de aplicá-la é do bispo diocesano.

Cobranças e silêncio
A excomunhão da igreja contribuiu para o aumento da repercussão do caso e, consequentemente, para o crescimento da animosidade entre os fiéis que permaneceram na paróquia e os que migraram para a Igreja Católica Independente. As celebrações alternativas, às quartas e domingos, em um galpão alugado e bancado por devotos em uma região carente da cidade, tem reunido centenas de pessoas por encontro ; superando a casa das 400, aos domingos. A intenção, segundo o padre, não é expandir a nova igreja, mas se dedicar à comunidade, com a criação de casas de assistência a pessoas carentes.

André recebeu a reportagem do Estado de Minas em uma sala anexa à recém-fundada igreja. Durante mais de um hora, falou dos planos para a iniciativa, apresentou documentos e prestação de contas e comentou a polêmica que dividiu os fiéis da cidade. Tanto ele quanto os devotos que migraram para a nova religião cobram da diocese explicações sobre o afastamento e as punições, que consideram desproporcionais.

A reportagem procurou o bispo dom José Lanza Neto. Por telefone, o chanceler da cúria, Claiton Ramos, disse que a diocese não se pronunciaria e que tudo sobre o caso está exposto em notas oficiais no site. O atual pároco da São Sebastião e São Cristóvão, padre Gilmar Antônio Pimenta, não quis gravar entrevista. Em conversa informal, na secretaria da paróquia, disse não estar autorizado a falar e que teria pouco a contribuir, já que chegou à cidade depois do afastamento. Disse que a comunidade está se recuperando e que a fé segue inabalada.